13 economistas portugueses publicaram hoje, quarta-feira, no “Diário de Notícias” (DN) um manifesto que questiona a utilidade económica das grandes obras que o Governo diz que vão avançar ainda nesta legislatura.

Os 13 subscritores não mencionam em concreto e o TGV, mas parece evidente que serão estas as “experiências fantasistas” “sem comprovada rendibilidade económica e social” referidas no documento. A concretização das grandes obras públicas “poderá ser desastrosa para o País”, dizem.

Em declarações à Rádio Renascença, o ministro das Obras Públicas, Mário Lino, reafirmou a importância para a economia do programa de investimentos públicos.

Entre os subscritores estão o presidente da Vodafone, António Carrapatoso, o ex-secretário de Estado do Tesouro e Finanças, António Nogueira Leite, os professores catedráticos Augusto Mateus e Fátima Barros, o presidente da RSE Portugal, Fernando Ribeiro Mendes, e o advogado e fiscalista, Henrique Medina Carreira.

O professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade Nova José António Girão, os economistas José Silva Lopes, José Ferreira do Amaral e José Almeida Serra, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, João Salgueiro, o ex-Governador do Banco de Portugal Miguel Beleza e o presidente da SIBS, Vítor Bento, subscrevem também o manifesto.

Algumas destas figuras estiveram com José Sócrates no fórum Novas Fronteiras ou estão ligadas a anteriores governos PS.

“Parece ter emergido uma corrente de pensamento que acredita que a superação da crise pode estar no investimento em grandes obras públicas, sobretudo se envolvendo grandiosos projectos convenientemente apelidados de estruturantes”, diz o texto. Para os 13 economistas, essa ideia é “errada e a sua eventual concretização poderá ser desastrosa para o País”, “nas presentes circunstâncias da economia e das finanças públicas”.

Nesta conjuntura, o investimento em grandes obras públicas “irá favorecer sobretudo as economias de onde importamos”, “pouco efeito terá na absorção do desemprego fabril gerado pela perda de competitividade da nossa indústria” e vai “agravar ainda mais o desequilíbrio das contas públicas”.

O manifesto sublinha ainda que “os portugueses não poderão compreender que lhes estejam a ser pedidos sacrifícios com impacto no seu nível de vida, quando o Estado se dispõe a gastar dinheiro sem comprovada rendibilidade económica e social”.

No passado dia 21 o ministro de Estado e das Finanças Luís Campos e Cunha demitiu-se evocando “motivos pessoais, familiares e cansaço”, mas é provável que o artigo de opinião de Campos e Cunha no jornal “Público” onde questionava a política de grandes investimentos tenha sido a gota de água numa relação que se vinha a deteriorar.

Ainda ontem, o ministro da Economia voltou a defender o programa de investimentos prioritários traçado pelo Governo, afirmando que “o investimento público em Portugal é um pouco mais baixo do que em Espanha, na Grécia, por exemplo, e muito mais baixo que na Coreia”. Manuel Pinho argumentou ainda com o “efeito multiplicador” de obras como o novo aeroporto na Ota e o TGV.

Texto e foto: Pedro Rios
Foto: Arquivo JPN