Cerca de 650 iraquianos xiitas morreram quarta-feira, como resultado de um movimento de pânico originado por rumores que davam conta da presença de um bombista suicida entre os peregrinos que percorriam a ponte sobre o rio Tigre que liga os bairros de Adamiyah e de Kazimiyah (norte de Bagdad) para participar numa cerimónia religiosa.

A maior parte das vítimas eram mulheres e crianças que “morreram por afogamento ou esmagadas”, afirmou à Reuters um oficial do Ministério do Interior iraquiano.

Às 14h15 (11h15, hora de Lisboa) o número de mortos tinha ultrapassado os 647 e registavam-se 301 feridos, informou a mesma fonte, que salientou que o balanço final pode ser mais negro.

As imagens televisivas mostram pessoas a saltar da ponte para fugir do local. Os peregrinos começaram a correr em todas as direcções, fazendo com que parte da estrutura ruísse e centenas caíssem à agua.

“Muitos idosos morreram imediatamente como resultado do movimento de pânico, mas vários morreram afogados. Muitos corpos estão ainda no rio. Há barcos à procura dos corpos”, afirmou uma fonte policial à agência Reuters.

O primeiro-ministro, Ibrahim al-Jaafari, decretou três dias de luto nacional, perante os números que fazem deste o incidente mais grave ocorrido no Iraque desde a invasão norte-americana de Março de 2003.

Tensão antecede referendo à Constituição

Horas antes do incidente, outros sete xiitas morreram e 40 ficaram feridos num atentado com granadas contra os peregrinos que avançavam pelas ruas do bairro de Kadimya, onde fica a mesquita do imã al- Kadem, para se juntarem à peregrinação.

A tensão tem subido entre as principais comunidades religiosas e étnicas.

O Parlamento terminou o rascunho da nova constituição no domingo. O documento tem que ser aprovado por mandato popular antes de 15 de Outubro.

As consequências da tragédia evidenciam que as divisões étnicas no Iraque são profundas.

O ministro da Saúde, próximo do movimento do líder radical xiita Mogtada Sadr, apelou, em conferência de imprensa, horas depois da tragédia, à demissão dos ministros do Interior e da Defesa, que considerou “responsáveis pelo que aconteceu”.

Pedro Rios