Com o impasse gerado pelos resultados das eleições legislativas de domingo, já se especula sobre a possibilidade de o Presidente, Horst Köhler, dissolver o Bundestag (Parlamento) e convocar novas eleições.

Esta hipótese, avançada na edição de terça-feira do diário britânico “The Guardian“, é tida como mais viável do que a possibilidade do Presidente alemão levar Angela Merkel a formar um Governo minoritário, que junte a CDU/CSU e os liberais do FDP, o que somaria 286 lugares num Bundestag com um total de 616 deputados, tornando impossível a concretização de quaisquer grandes reformas.

No dia 18 de Outubro o Bundestag vota um novo chanceler. Tradicionalmente, é o Presidente alemão quem nomeia o próximo chanceler e o propõe para votação no Parlamento, mas só o faz de acordo com os resultados das negociações sobre a formação de coligações.

Ou seja, se até dia 18 de Outubro ainda não tiver sido formada uma coligação maioritária, o Presidente tem o poder de dissolver o Bundestag e convocar novas eleições, usufruindo de uma cláusula da Constituição alemã nunca antes utilizada. Schroeder manter-se-ia no poder até os resultados serem apurados.

Cenário de coligação complica-se

Na segunda-feira, mais uma possibilidade de coligação partidária parece ter sido posta de parte. Os Verdes de Joschka Fischer rejeitaram a possibilidade de fazerem parte de uma coligação “Jamaica” (que integraria também CDU/CSU da mais votada Angela Merkel e os liberais do FDP).

Assim sendo, restam poucas hipóteses que não novas eleições para a formação de Governo, já que o FDP se recusa a coligar com o SPD de Gerhard Schroeder (formando o governo “semáforo” por ter as cores vermelha do SPD, amarela da CDU e os Verdes).

Por outro lado, o ainda chanceler não aceita subordinar o seu partido numa grande coligação com Angela Merkel à cabeça, e nenhum partido aceita negociar com o Die Linke (o partido pós-comunista onde figuram antigos membros do SPD, desiludidos com as políticas de Schroeder).

Rosto da discórdia abandona política

No meio de toda a confusão política gerada pelas eleições, já teve lugar uma desistência que não se pode deixar de considerar como irónica. Durante a campanha eleitoral, todas as atenções estiveram concentradas na figura do professor Paul Kirchhof, que era dado como certo no cargo de ministro das Finanças num Governo liderado pela CDU/CSU.

Desta forma, o maior rosto da discórdia entre os partidos no período eleitoral não fará parte de nenhum governo.

Vários analistas consideram que foram as suas políticas que levaram os democratas-cristãos ao seu terceiro pior resultado da história. Na segunda-feira, Kirchhof anunciou que iria abandonar a política e voltar ao cargo de professor na Universidade de Heidelberg.

Aguardam-se agora as eleições em Dresden (onde são eleitos três deputados), que foram adiadas para 2 de Outubro devido à morte de uma candidata. Contudo, não se espera que os resultados mudem a actual situação.

Tiago Dias