Foi anunciado, segunda-feira à noite, o começo das negociações para a adesão da Turquia à União Europeia (UE). O anúncio esteve em suspenso até à última hora, já que a Áustria se recusava a aceitar que a Turquia desempenhasse algo mais do que o papel de uma “parceira privilegiada” da UE.

O ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Abdullah Gul, que ainda na noite de segunda seguiu directamente para o Luxemburgo para firmar o começo das conversações, afirmou, citado pelo The Guardian, que “a Turquia será o único país muçulmano na UE”.

As negociações, agora anunciadas, só deverão terminar num mínimo espaço de tempo de 10 anos, podendo prolongar-se até 2020, sendo essa a data apontada pelos especialistas como a mais realista.

Para o director do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais (IEEI), Álvaro de Vasconcelos, o facto da UE iniciar conversações com a Turquia sobre a adesão significa que, definitivamente, “a UE se define na diversidade” e que não pode ser encarada como “um clube cristão”.

Em declarações ao JPN, Álvaro de Vasconcelos afirma que os obstáculos que possam vir a surgir durante as negociações vão ser, na sua maioria, obstáculos da parte turca, já que a Turquia vai ter de adaptar muita da sua legislação às leis europeias.

A BBC online escreve, mesmo, que até à data de uma possível adesão, a Turquia vai ter de adoptar 80 mil páginas de leis europeias.

Portugal é o terceiro país mais favorável à adesão

Nos países da UE, segundo uma sondagem do Eurobarómetro, uma média de 35% da população é favorável à entrada da Turquia na União. Em Portugal, a média é de 43%.

Para o director do IEEI, o facto de Portugal ser o terceiro país com maior percentagem de apoio à adesão turca deve-se à experiência mais recente que os portugueses tiveram com as mudanças que o país sofreu após se ter juntado a UE. “Não existe em Portugal um chauvinismo anti-islâmico”, explica o especialista em questões internacionais.

Outra das questões que envolve a entrada da Turquia na UE é saber onde é que se estabelece o limite do que é ou não Europa. Álvaro de Vasconcelos considera que a fronteira física europeia é algo indefinido, uma criação histórica que foi evoluindo com o tempo. “Acho que se pode dizer que com a adesão da Turquia a fronteira esbate-se ainda mais”, diz, assumindo as dificuldades que existem em estabelecer limites físicos à UE.

Entretanto, a Croácia também passou a ser uma candidata a adesão, já que o Tribunal Penal Internacional confirmou que as autoridades croatas estão a colaborar em pleno, para que se proceda à detenção e julgamento de criminosos da guerra jugoslava.

Tiago Dias