A primeira sessão do julgamento do ex-presidente do Iraque Saddam Hussein terminou com a marcação da próxima audiência para 28 de Novembro.

A defesa de Saddam Hussein tinha pedido inicialmente um adiamento de três meses. Saddam e os restantes sete arguidos são acusados “de assassínio, tortura e de responsabilidade no massacre de 143 xiitas em 1982, sequestro de 399 famílias, a destruição das suas casas e terras” agrícolas na aldeia de Dujail, situada a 60 quilómetros a norte da capital iraquiana.

Os arguidos arriscam-se à pena de morte.

Saddam desafiou tribunal

Foi um Saddam desafiador que hoje, quarta-feira, entrou no tribunal para responder por crimes contra a humanidade.

O ditador fez-se acompanhar pelo Corão e recusou confirmar a sua identidade perante os juízes, para além de ter discutido com o presidente do tribunal, o curdo Rizgar Mohammed Amin, logo na abertura da sessão ao meio dia de Bagdade. “Quem é você? Que pretende este tribunal?”, questionou.

Quase dois anos depois de ter sido capturado, oito meses após a queda do seu regime, Saddam e sete membros do agora extinto partido Baas, compareceram perante um painel de cinco juízes para serem julgados por acontecimentos que se seguiram à tentativa de assassinato do antigo líder em 1982, na aldeia de Dujail.

Entre os colaboradores do ex-ditador também presentes em tribunal figuram Barzan Ibrahim Hassan (um dos seus três meios-irmãos e seu conselheiro presidencial) e Taha Yassin Ramadan (ex-vice-presidente), que participaram no golpe de Estado de 1968 que levou o partido Baas ao poder.

Os outros cinco são Awad Ahmed al-Bandar (antigo juíz do tribunal revolucionário e adjunto do chefe de gabinete de Saddam Hussein), Abdallah Kadhem Rueid, Mezhar Abdallah Rueid, Ali Daeh Ali e Mohammed Azzam al-Ali (os quatro eram responsáveis do partido Baas na região de Dujail).

Ditador pode ser condenado à pena de morte

Os oito arguidos são acusados pela “execução de 143 aldeões, o sequestro de 399 famílias, a destruição das suas casas e terras” agrícolas na aldeia de Dujail, situada 60 quilómetros a norte de Bagdad.

O advogado chefe da equipa de defesa de Saddam e dos seus sete colaboradores arguidos, Kalil al Duleimi, queixou-se hoje de que o Tribunal Especial esta a “obstaculizar a defesa”.

Duleimi acusou ainda o tribunal de estar a colocar todo o tipo de impedimentos à defesa que quer chegar ao lugar secreto dentro da zona verde, protegida por altas medidas de segurança militar, onde se realiza o julgamento.

O advogado de Saddam aludiu ainda ao facto da defesa não ter tido o tempo suficiente para preparar as alegações e que as escassas reuniões que teve com o ditador foram realizadas sob rigorosa vigilância dos militares norte-americanos.

Julgamento é “etapa fundamental”

O departamento de Estado norte-americano descreveu o julgamento como uma “etapa fundamental” que irá encerrar um “capítulo negro” da história iraquiana. A Casa Branca veio ontem repetir que este é um “processo iraquiano” e que Saddam Hussein terá direito a tudo que ditam as normas internacionais.

O advogado de Saddam referiu ontem à AP que a moral do ditador “está muito, muito, muito alta, e ele está muito optimista e confiante na sua inocência”.

Em redor do julgamento, multiplicam-se as preocupações com a segurança depois de ter sido ontem divulgado na internet, um comunicado assinado pelo dissolvido Baas iraquiano, onde o partido apela aos “combatentes resistentes” e aos “antigos membros das antigas forças armadas iraquianas que se tenham juntado à resistência” para lançaram ataques coordenados durante o processo.

Pedro Sales Dias
c/ agências
Foto: Iraqi Special Tribunal