O ex-primeiro-ministro, Cavaco Silva, confirmou hoje, quinta-feira, a sua candidatura às eleições presidenciais de 2006, numa declaração pública no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. O quinto nome a oficializar a entrada na corrida a Belém – depois de Mário Soares, Manuel Alegre, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã – justificou o seu anúncio de candidatura como um “imperativo de consciência” para “melhorar o clima de confiança no país”.

“Depois de uma cuidada ponderação, decidi candidatar-me à Presidência da República. Confesso que não foi uma decisão fácil. Faço-o por um imperativo de consciência”, referiu Cavaco Silva no início do discurso.

“Posso ser um factor de confiança e credibilidade”

“Em Março do ano passado, numa entrevista na televisão, afirmei que só admitia candidatar-me à Presidência da República em circunstâncias especiais ligadas ao futuro do país. Foi o que aconteceu”, disse.

O professor, que fez questão de se distanciar do PSD ao anunciar que se candidata à Presidência da República desvinculado do partido, tal como fez nas últimas eleições, continuou o seu discurso descrevendo um cenário de “descrença e de pessimismo” nacional que considera não ser digno de resignação. “Eu não me resigno”, exortou Cavaco.

O ex-primeiro-ministro prometeu ainda respeitar o limite dos poderes do Presidente da Repúblico consagrados pela Constituição.

O ex-primeiro ministro defendeu que está “convencido que, se for eleito” pode “contribuir para melhorar o clima de confiança e vencer a situação muito difícil em que o pais se encontra”.

“Temos de restabelecer a confiança, mobilizar as energias nacionais e reencontrar o caminho do desenvolvimento equitativo. Sei que isso é possível. As capacidades dos portugueses, já demonstradas noutras ocasiões, são uma garantia de que podemos vencer. Esta foi uma razão determinante da minha decisão”, explicou.

Quatro razões para ser Presidente

Quase no final dos oitos minutos de discurso que Cavaco Silva tinha previamente preparado, enumerou ainda as quatro razões pelas quais se julga capaz de ocupar o cargo de Chefe de Estado.

O seu conhecimento “da realidade portuguesa” e do “quadro internacional em que Portugal se insere”, a par da “experiência da vida política nacional e internacional” que adquiriu durante os anos em que chefiou o Executivo foram apontadas em primeiro lugar por Cavaco Silva para depois deixar bem clara uma última motivação: “fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que gerações mais novas, os nossos jovens, recebam, não a pesada herança que lhes dificulte a vida, mas uma janela de oportunidades de progresso”.

Questionado pelos jornalistas quanto à decisão sobre o destino a dar a um referendo sobre o aborto caso seja eleito, Cavaco Silva remeteu a resposta para o Tribunal Constitucional, que deverá pronunciar-se sobre o assunto, mas deixou bem clara a sua posição: “Tenho uma posição de princípio: um Presidente da República, em circunstâncias normais, deve dar seguimento às propostas de referendo que lhe chegam da Assembleia da República”.

Pedro Sales Dias
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