Em duas semanas, Thomas Hirschhorn transformou o Museu de Serralves numa grande sala de aula, com cadeiras amarelas, mesas e púlpitos azuis. Mas não se espere encontrar a hierarquia e formalidade subjacentes às tradicionais escolas, já que a escola do artista suíço é antes uma “não-escola”, com centenas de objectos artísticos dispostos de forma anárquica.

“Anschool II” estará patente no Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Serralves até 29 de Janeiro do próximo ano. A mostra continua o projecto apresentado no início do ano, na Holanda. É uma revisão “não retrospectiva” e não cronológica do percurso do suíço.

Arte não política feita politicamente

Pelos 1.600 metros quadrados da exposição, há esculturas, rabiscos no chão e nas paredes (como numa verdadeira escola), fotografias dos trabalhos dos 20 anos de percurso artístico de Hirschhorn, vídeos, reflexões do artista sobre a obra (para serem levados pelos visitantes gratuitamente) e dizeres panfletários sobre o papel da arte no mundo – escritos em português pelo próprio artista, sinal de uma obra que quer “criar um espaço mental” onde todos “possam pensar”.

Segundo o comissário e director do MAC, João Fernandes, a mostra é a “mais importante exposição do ano no Museu de Serralves”.

Hirschhorn virou o MAC do avesso, tornando as salas do museu quase irreconhecíveis mesmo aos visitantes mais habituados. O suíço é conhecido por odiar o formalismo dos museus tradicionais. “Não gosto de exposições. Sou contra as suas estratégias de intimidação”, afirma.

Apesar de integrar no seu trabalho múltiplas referências às culturas capitalista e “pop”, desde embalagens de Corn Flakes (Andy Warhol é uma forte referência do suíço) a capas de jornais por altura da guerra no Iraque, Hirschhorn diz que não faz arte política, mas fá-la “politicamente”.

“Tudo é político. Com cada detalhe quero fazer a pergunta ‘Qual é a minha posição?'”, diz. E acrescenta: “Não tenho energia quando não há um grande objectivo”.

Obra de excessos

Sobre a sua aparente “obsessão” pela cultura “pop”, Hirschhorn diz não ter “medo das cores”. “Não são assim tão importantes”, ironiza. No caos da não-escola, “as coisas têm que lutar pela sua autonomia”. O quotidiano está também na utilização de materiais baratos e marcadamente funcionais como cartão, folhas de alumínio ou fita adesiva.

O “excesso” é, com efeito, a marca principal da mostra, como reconhece o artista. “É importante fazer muito porque isso é um compromisso. Por outro lado, é apenas um gesto vazio. O mais importante não é ler tudo, mas saber que tudo pode ser importante”, esclarece Hirschhorn. Em “Anschool II” há “excesso de informação, acção e energia”, acrescenta João Fernandes.

Texto e fotos: Pedro Rios