É necessário “dar margem de manobra às escolas”, que “devem poder gerir parcialmente” os currículos. “Impõe-se hoje um contraponto à concepção napoleónica e republicana do currículo”, concepção que é levada ao “extremo” em França. Para o sociólogo João Teixeira Lopes, a “tentativa de concentrar num foco iluminado a fabricação dos currículos” “está a dar os piores resultados”, como mostra a vaga de violência urbana em França.

Para o professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e deputado do Bloco de Esquerda, o caso francês revela que é necessário que a escola seja um espaço multicultural que resista à “tentativa de unificar o que é desigual” e que não enverede pela defesa de uma cultura única, como em França com a proibição do uso de símbolos religiosos considerados ostensivos.

Teixeira Lopes falava sobre a multiculturalidade nas escolas na conferência de abertura de um colóquio dedicado ao tema, que termina amanhã, na reitoria da Universidade do Porto. Perante uma plateia de professores e estudantes do ensino não superior, Teixeira Lopes criticou a “alunização” que vê os “educandos como alunos e não como pessoas”.

O docente da FLUP defende que os currículos escolares devem ter um “corpo unificado”, um “factor de integração”, mas também “flexibilidade”, através do “diálogo em paridade”. “Prever um currículo para um aluno médio é contribuir para o insucesso da prática pedagógica”, sustentou. Contra uma escola que tem “cada vez mais camisas de força”, o sociólogo defende “currículos parcialmente abertos”.

Para Teixeira Lopes, o professor deve ser um “etnólogo crítico” numa escola que é uma “comunidade de estranhos em processo de familiarização, tradução, diálogo e interacção”. “A escola é a última oportunidade para ter conhecimento da complexidade porque depois os percursos vão caminhar no sentido da redução da complexidade”, afirmou o sociólogo.

Pedro Rios
Foto: Joana Beleza/Arquivo JPN