A Guerra do Iraque continua a causar mossa na administração Bush. Depois da denúncia feita por um jornalista da estação televisiva italiana RAI, um porta-voz do Departamento de Defesa norte-americano confirmou, em entrevista à BBC, o uso do fósforo branco (MK77) como uma arma em Fallujah, em 2004.

“Foi usada como uma arma incendiária contra os inimigos combatentes”, reconheceu o tenente-coronel Barry Venable.

Os EUA tinham afirmado anteriormente que o MK77, apelidado de “novo napalm”, tinha sido pouco utilizado em Fallujah e sempre com fins de iluminação. Venable disse que esse anúncio tinha sido baseado em “informação pobre”.

O fósforo branco é altamente inflamável e incendeia-se em contacto com o oxigénio, sendo, por isso, utilizado como fonte de iluminação em guerra. Quando atinge o corpo, causa queimaduras graves da pele.

O porta-voz do Pentágono nega que o fósforo branco seja uma arma química banida. “É uma arma incendiária, não uma arma química”, disse Venable, que acrescentou que “pode ser usada em combate contra o inimigo”.

A arma não está incluída na Convenção sobre Armas Químicas [HTML], mas, segundo o documento, qualquer arma que causa a morte ou incapacidade através de uma acção química pertence ao lote de armas proibidas. Contudo, os EUA não assinaram este tratado internacional.

Venable explicou a forma como a arma foi utilizada em Fallujah. “O efeito combinado de fumo e fogo – e em alguns casos o terror provocado com a explosão no chão – fá-los [às forças inimigas] sair dos buracos, permitindo matá-los com explosivos potentes”, descreveu.

Embaixador nega

As declarações do porta-voz do Departamento de Defesa dos EUA contradizem as de outro alto responsável norte-americano. O embaixador dos EUA em Inglaterra, Robert Turtle, em entrevista ao jornal “The Independent”, garante que os militares não usaram “napalm” nem fósforo branco no Iraque.

Rumsfeld reconhece “erros de boa fé”

O secretário de Defesa norte-americano admitiu ontem que houve “erros de boa fé” por parte dos serviços secretos que justificaram a invasão do Iraque em 2003.

“Não há dúvida alguma no meu espírito de que houve pessoas que erraram de boa fé no que diz respeito às informações dos serviços secretos apresentadas nas Nações Unidas. Elas não eram intencionais”, garantiu Donald Rumsfeld.

A oposição democrata tem acusado a administração Bush de ter manipulado a informação dos serviços secretos para exagerar a necessidade de entrar em guerra contra o regime de Saddam Hussein.

Estes acontecimentos podem agravar a tendência de queda da popularidade do Presidente norte-americano. Segundo uma sondagem da ABC/Newsweek, publicada este domingo, 58% dos norte-americanos rejeitam a política de Bush.

Pedro Rios
Foto: Pentágono