O debate “Os novos paradigmas da gestão autárquica” realizado hoje, quarta-feira, na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), ficou marcado pela ausência do presidente da Câmara de Gondomar, Valentim Loureiro.

“Era impossível [ao major] cá estar devido às responsabilidades que tem na Metro do Porto e na Câmara de Gondomar. Aliás, é pública a discussão“, em torno da Metro, justificou assim o representante enviado pelo autarca ausente.

O debate organizado pela Associação de Estudantes da FEP, integrado no ciclo de conferências “Gestão em análise”, teve como oradores o professor da FEP Álvaro Costa, o presidente da DECO Norte, Delfim Loureiro, e o arquitecto Manuel Fernandes.

O presidente da Câmara de Gaia, Luís Filipe Menezes, à semelhança do autarca de Gondomar, também faltou ao convite. O salão nobre da FEP, com muitas cadeiras vazias, não correspondeu às expectativas do primeiro debate do ciclo de conferências.

Rede de Metro veio “piorar a situação”

“Sou um crítico histórico do Metro”, admitiu o conhecido arquitecto Manuel Fernandes, lembrando que quando era aluno nas aulas da Faculdade de Belas Artes o ensinavam “já havia uma rede de ‘metro'”, que, na realidade, eram as várias linhas de comboio em torno da cidade, completadas por “uma rede fabulosa de eléctrico. Contudo, “tudo isso foi desmobilizado e substituído por uma estrutura que só veio piorar a situação”, acusou.

Manuel Fernandes salientou também que o Metro devia ser o protótipo do ordenamento da área metropolitana do Porto e considerou que os autarcas atribuem pouca importância ao ordenamento do território. “Olhando para os candidatos que se propuseram nestas eleições autárquicas, verifica-se que não houve uma única ideia nova. Limitam-se ao ‘dolce fare niente'”, afirmou.

O professor de arquitectura chamou a atenção para a “espécie de fatalidade” vivida nesta questão, acrescentando que “os Planos Director Municipal são a última instância que ainda resta de planeamento efectivo”.

Betão e asfalto são solução para tudo

Quanto à “crise vivida em Portugal”, o arquitecto frisou que “não é por falta de construção. Portugal é o país da construção da civil. A solução é sempre do mesmo tipo. O ‘super-hábito’ é investir em betão e asfalto”.

Por outro lado, Manuel Fernandes lamentou a tendência para qualificar o espaço privado e esquecer o espaço público e alertou para a “total confusão” que se verifica nos projectos de construção.

Total confusão nos projectos de obra

Dando como exemplo o último episódio da recente polémica da Casa da Música, o arquitecto, que foi membro da Comissão Executiva do Conselho de Administração da Sociedade Porto 2001, considera que em Portugal “há uma total confusão e inversão das etapas sequenciais: ideias, planos, projectos e obras. A Casa da Música já está pronta, mas ainda se anda a debater o projecto, isto é, que tipo de instituição meter dentro da obra”.

Pedro Sales Dias
Foto: SXC