Sociólogo francês, Phillippe Robert, explica as causas do colapso do modelo de integração francês e a real dimensão discriminatória dos africanos.

É correcto chamar aos incidentes urbanos a Intifada francesa?

Se se chamar Intifada, ou seja, os movimentos de revolta de certas facções da sociedade palestiniana contra a ocupação israelita, não se irá ver verdadeiramente o que se passa nalgumas cidades ou subúrbios franceses. Esse género de aproximação, fácil e duvidoso, serve, somente, para sugerir que se trata de um assunto com uma componente essencialmente étnico-religiosa, de um confronto entre o Islão e a França. Todavia, quem participa nestes distúrbios não são aqueles que dão mais importância ao credo muçulmano.

Como avalia o modelo de integração francês?

A França é um país de imigração, em grande escala, desde pelo menos o fim do século XIX. Boa parte da população tem as suas raízes na imigração, se remontarmos, pelo menos, há duas gerações. A integração é baseada num modelo cívico: é uma escolha pessoal de cada um – que todas as pessoas podem fazer – de aderir à Nação francesa, de escolher tornar-se cidadão. A capacidade de integração assenta na força da sociedade de acolhimento que se sente portadora de um projecto e capaz de abrir um lugar para novos membros que adiram a esse projecto. É aqui que, provavelmente, se encontra o problema neste momento: a sociedade francesa duvida de quem a constitui e da sua capacidade de integrar novos cidadãos.

Como se pode fazer a integração de maneira mais eficaz?

Há que voltar a dotar a sociedade de confiança no seu projecto e no seu futuro. Infelizmente, esta função já não é assegurado pelos políticos actuais.

Qual a verdadeira dimensão da discriminação em França?

Observa-se uma tripla discriminação, sendo a mais importante a que pesa sobre aqueles que não chegam a seguir um percurso escolar longo o suficiente de maneira a acumular capital educativo e que têm imediatamente mais probabilidades de serem rejeitados no mercado de trabalho, pelo menos no mercado de trabalho estável, e que, por conseguinte, se encontram de maneira duradoura numa situação precária.
Acrescenta-se a isto uma discriminação pela má reputação de certas zonas urbanas ou suburbanas: há que reconhecer que habitar numa delas penaliza fortemente a procura de emprego, mesmo se se dispõe de um bom capital escolar. Por último, os jovens vindos da imigração do norte de África ou subsaariana são objecto de uma discriminação suplementar em termos de mercado de trabalho, de alojamento, ou mesmo de lazer.

Tiago Dias