“O meu sonho é que haja um satélite completamente construído pela Universidade do Porto”, confessa Pedro Portela, um dos grandes impulsionadores da participação da Faculdade de Engenharia (FEUP) no projecto SSETI da Agência Espacial Europeia (ESA), que, em Outubro, lançou para o espaço um satélite inteiramente concebido por estudantes.

A ambição de Portela já esteve bem mais distante da realidade: depois do sucesso que foi a participação da FEUP no SSETI (Student Space Exploration and Technology Initiative), uma nova equipa de alunos da faculdade, desta vez mais numerosa, vai conceber de raiz um nano-satélite (engenho de dimensões reduzidas), revelou o ex-aluno da FEUP ao JPN.

O UPS – Universidade do Porto Satélite – arrancou em Janeiro deste ano, sob a coordenação de Bruno Soares.

O sonho de Pedro Portela – que, apesar de não participar no UPS, segue o projecto atentamente – deverá estar concretizado em 2007. Esta é, pelo menos, a previsão apontada pelo responsável pelo UPS, que adianta haver ainda a intenção de construir um outro satélite. “O grande objectivo é ter, até 2009, dois nano-satélites construídos”, revelou Bruno Soares ao JPN.

“Um projecto ambicioso”

O UPS envolve “mais de 35 alunos das licenciaturas de Electrotécnica, Mecânica, Informática e Gestão”, adiantou Bruno Soares. Além da equipa de estudantes, o projecto conta ainda com a “ajuda de cerca de cinco professores do Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores”.

Apesar de o projecto ser inteiramente assumido pela FEUP, a possibilidade de alargar a iniciativa a outras instituições não está posta de lado. Pelo contrário: Bruno Soares adianta que “já existem contactos com empresas brasileiras e da Europa do Norte” para parcerias. Quanto a universidades, “existe o interesse por parte de algumas instituições francesas em participar no projecto”, revela o responsável.

“É um projecto ambicioso”, reconhece Pedro Portela. O ex-estudante de Engenharia admite que esta é uma oportunidade para “mostrar que é possível e que há competências” no domínio da engenharia espacial, e acredita que a aeronáutica “pode ser uma área estratégica para Portugal”. “Estamos a falar de um mercado que mexe com milhões de euros”, justifica.

Competências adquiridas justificam gastos

“Dadas as reduzidas dimensões do satélite, os custos são, também, menores” quando comparados com o investimento necessário à construção de um satélite normal, adianta Pedro Portela.

“Acreditamos que o ‘know-how’ criado em redor de todos os alunos e professores justificará todos os gastos”, sustenta Bruno Soares. O responsável adianta, contudo, que o projecto está inserido no Núcleo de Aeronáutica, Aeroespacial e Modelismo (NAAM) da FEUP, que tem “responsabilidades” face ao orçamento do UPS.

ESA poderá lançar engenho para o espaço

Pedro Portela revela que o UPS está a “negociar com a ESA a possibilidade do lançamento para o espaço”, mas Bruno Soares diz que “ainda é prematuro” falar disso. O responsável adianta, contudo, que “num futuro próximo serão apresentadas propostas à ESA”.

Além de “testar FPGA’S (circuitos lógicos reconfiguráveis)”, o caderno de missões do nano-satélite da Universidade do Porto tem ainda apontado o “registo e envio de fotografias”, explica Bruno Soares.

Ana Correia Costa
Foto: NASA