Museu portuense expõe trabalhos iniciais de Fernando Lanhas. Mostra inclui estudos daquilo que viria a ser o abstraccionismo geométrico.

Paralelamente ao doutoramento “honoris causa” que hoje, terça-feira, é atribuído ao arquitecto portuense Fernando Lanhas (1923), o Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, inaugura, pelas 16h00, a mostra “Lanhas c.1945”.

A exposição contempla alguns dos trabalhos que marcaram os primeiros passos de Lanhas no mundo das artes, então estudante de Arquitectura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto.

Entre os trabalhos expostos – datados da década de 40 – encontram-se estudos para pinturas que marcaram as primeiras incursões de Lanhas pelo abstraccionismo geométrico. “O.2.44”, ou óleo número 2 de 1944, inicialmente designado por “Violino”, é considerada a sua primeira obra inequivocamente abstracta.

Organizada pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto (FBAUP) no âmbito das comemorações dos 225 anos da instituição, a mostra está patente até 19 de Fevereiro.

Obra multifacetada

Contemporâneo de Júlio Pomar, Nadir Afonso e Júlio Resende, com quem viria a realizar, a partir da década de 40, as “Exposições Independentes”, Lanhas não se ficaria pelo mundo das artes. A ciência despertaria igualmente o seu interesse, até porque “o encanto é o mesmo”, explicou o arquitecto ao JPN.

Além da arquitectura e pintura, Lanhas dedicou-se à arqueologia, paleontologia, etnografia e astronomia. Explica a exploração de interesses tão variados pela curiosidade, e diz que está tudo no “querer entender as coisas”. O arquitecto procura compreender o mundo e, para isso, serve-se tanto da pintura como da astronomia.

Autor de uma obra multifacetada, Fernando Lanhas assinou projectos de arquitectura, desenhos, pinturas e diversos mapas de sistematização do conhecimento científico, transformando-se numa das mais singulares figuras da arte portuguesa da segunda metade do século XX.

Além da introdução do abstraccionismo geométrico em Portugal, Lanhas desenvolveu, a partir de 1949, experiências de pintura sobre seixos rolados.

Os trabalhos plásticos não escondem a influência das ciências: a pintura mais recente, concluída há poucos dias, e que fez questão de mostrar ao JPN, baseia-se na curva gráfica obtida através de uma equação matemática.

Ana Correia Costa