Foi quase uma conversa entre amigos, mais do que um debate entre adversários. Entre o candidato à Presidência da República, Manuel Alegre, e o candidato do PCP, Jerónimo de Sousa, as divergências foram mínimas, por muito que, às vezes, o comunista se tentasse distanciar de Alegre.

Foi um debate que girou em torno das questões políticas, deixando de lado os discursos técnicos de economia que têm dominado grande parte dos confrontos entre candidatos. Os dois políticos, que se encontraram esta segunda-feira à noite, tiveram dificuldades em encontrar diferenças entre as candidaturas de ambos.

A grande divergência entre Alegre e Jerónimo foi a de se deve haver ou não um pacto social que envolva todos os agentes económicos, políticos e sociais para lutar contra a crise que o país atravessa.

O pacto, proposto por Manuel Alegre, é contestado por Jerónimo de Sousa. O comunista acredita que existe uma parte dos envolvidos (os patrões) que só tem como objectivo aumentar os seus lucros, sendo assim impossível um pacto.

União da esquerda

Manuel Alegre lembrou que “neste momento qualquer desistência à esquerda facilitaria a vitória de Cavaco Silva” e alertou que quaisquer socialistas ou mesmo comunistas que tenham decidido votar pelo candidato apoiado pelo PSD e pelo PP, vão estar “a votar no candidato errado”.

Jerónimo de Sousa, que assumiu que a sua candidatura “emanou do PCP” e que não foi ele que se autopropôs, reconheceu que o Partido Comunista depois das legislativas de Fevereiro considerou “uma convergência [entre partidos de esquerda] que pudesse fazer frente a uma candidatura de direita”, mas foi confrontado com a resposta do primeiro-ministro de que só pensaria em presidenciais depois do Verão.

Privatização da água

A temática da dissolução da Assembleia da República voltou a ser colocada na mesa, a propósito de uma questão que já tinha vindo ao de cima noutro debate: a privatização das águas. Manuel Alegre reafirmou que dissolverá o Parlamento caso seja eleito e se tenham esgotado as formas de diálogo com o Governo que proponha tal medida. Ainda assim, Alegre esclareceu: “Não tenho qualquer intenção de demitir o engenheiro Sócrates”.

Novo rumo para a UE

Durante o resto do encontro entre os dois candidatos de esquerda, as diferenças foram muito poucas. Manuel Alegre e Jerónimo de Sousa concordaram que a União Europeia (UE) precisa de um novo rumo, para que se afaste do que pensam ser o caminho neoliberal que se regista actualmente. Ainda assim, o candidato comunista explicitou que “de Portugal têm de tratar os portugueses”, apesar de não defender uma saída da UE.

Tiago Dias