Uma delegação do Hamas pisou hoje, sexta-feira, solo russo a convite de Vladimir Putin para dialogar sobre as medidas a serem tomadas na Palestina pelo Movimento da Resistência Islâmica, que saiu vitorioso das legislativas palestinianas de 25 de Janeiro.

“O convite de Putin ao Hamas é uma estratégia da Rússia para retomar o seu peso na cena internacional e, em particular, no Médio Oriente”, sustenta, ao JPN, Maria do Céu Pinto, professora de Geopolítica e Estratégia na Universidade do Minho.

Para a especialista em assuntos do Médio Oriente, o Presidente russo vai transmitir uma “dupla mensagem”: “pretende obter influência sobre o Hamas e vai colocar-se como um dos apoios do movimento, lembrando que se quer ser respeitado, [o Hamas] terá de fazer cedências”.

O Conselheiro de Negócios da Autoridade Palestiniana em Portugal disse ao JPN que “o convite de Vladimir Putin pode desencadear o reatamento do processo de paz na Palestina”. Salah El-Qatta acredita que “a Rússia vai ouvir o Hamas sobre as suas linhas políticas e vai mostrar os seus pontos de vista sobre as questões de Direito Internacional”.

Para o Conselheiro de Negócios da Autoridade Palestiniana em Portugal, “a Rússia, sendo um membro do Quarteto [Estados Unidos, União Europeia e ONU], irá ter em consideração determinados pontos como o reconhecimento por parte do Hamas dos acordos assinados entre Israel e a Organização da Libertação da Palestina (OLP)”. Putin “irá tentar convencer o Hamas a reconhecer o Estado de Israel e, numa outra interpretação, irá condenar todos os tipos de violência”, antecipa Salah El-Qatta.

A iniciativa diplomática da Rússia, que é apoiada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, é “natural e positiva”, sustenta Salah El-Qatta.

Contudo, o Alto Representante da União Europeia (UE) para a Política Externa, Javier Solana, afirmou numa conferência de imprensa, em Ramallah, que a UE não irá contactar com o Hamas até ter conhecimento das medidas do governo palestiniano.

Mas para Maria do Céu Pinto “é apenas uma questão de tempo até a Comunidade Internacional começar a negociar com o Hamas, a não ser que este volte a pegar em armas”. A professora da Universidade do Minho salienta ainda que se “o movimento do Hamas respeitar uma trégua, os países que não o querem aceitar ficam privados, de alguma forma, dos argumentos contra o Hamas”.

Gina Macedo
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