A vinda dos Pelt a Portugal e, sublinhe-se, a uma sala como a Casa da Música, reveste-se de particular importância. O concerto de ontem, sábado, na sala portuense, serviu de consagração entre nós da vaga de música psicadélica, com produção maioritariamente norte-americana.

Os Pelt são um dos pioneiros da paisagem actual de música livre, mantendo a vitalidade artística e criativa (“(Untitled)”, editado no ano passado, está aí para o provar).

No palco do Corredor Nascente (com vista para a Rotunda da Boavista), o quarteto da Virgínia embarcou nas longas “jams” com instrumentação oriental (um harmónio e várias taças tibetanas, instrumentos que prolongam sons até ao infinito).

Jack Rose ocupou, a espaços, o lugar central nas improvisações, com as suas ragas, mas o todo foi monolítico e de fruição colectiva. Diferentes épocas e latitudes encontraram-se ali: folk, blues, música indiana e minimalismo à LaMonte Young fundidos num som puro e abstracto. Noutros momentos, foi o “fiddle” (violino antigo) de Mike Gangloff a empurrar a massa de som (e as mentes do público) para novos lugares.

Não foi perfeito – faltou talvez menor homogeneidade entre as improvisações -, mas por uma hora e alguns minutos as noções de tempo e espaço foram esbatidas. Em seu lugar ficou apenas som puro e viagens mentais.

Pedro Rios
Foto: Ana Sofia Marques