O chefe da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Mohamed ElBaradei, manifestou hoje, segunda-feira, a esperança que ainda exista um acordo em torno do tema.

No início da reunião da AIEA que pode decidir o envolvimento do Conselho de Segurança na questão nuclear iraniana, ElBaradei considerou que seria “contraproducente” a aplicação de sanções contra o Irão e evocou as recentes negociações entre a Rússia e a União Europeia como exemplo de que o diálogo ainda é possível. “Ainda tenho muitas esperanças que na próxima semana possamos chegar a um acordo”, disse, apelando à contenção verbal entre as partes.

“É do reconhecimento geral que a questão iraniana tem sérias implicações na segurança internacional. Toda a gente compreende que uma escalada não vai ajudar uma situação que é altamente, altamente volátil no Médio Oriente”, alertou.

A Rússia oferece ao Irão a possibilidade de enriquecer urânio em solo russo, o que permitiria maior controlo sobre as actividades nucleares de Teerão. No entanto, o Irão mantém a determinação de enriquecer urânio sozinho. Javad Vaeedi, membro do Conselho Nacional de Segurança iraniano, sublinhou à Reuters que a “pesquisa e desenvolvimento” em enriquecimento de urânio no Irão são irreversíveis.

O enriquecimento de urânio é um dos passos para gerar electricidade – que Teerão insiste ser o único objectivo do seu programa nuclear, o que é permitido pelo Tratado de Não-Proliferação -, mas também para construir armas nucleares, facto que gera a desconfiança ocidental.

ElBaradei afirmou que a insistência do Irão no enriquecimento de urânio em máquinas centrifugadoras era um “assunto divisor, com ambas as partes [Irão e União Europeia] a adoptar uma postura rígida”. O país já está a tentar 20 máquinas deste tipo que transformam o urânio em energia para reactores de energia atómica ou, quando altamente purificados, armas nucleares.

Teerão diz que existe um duplo critério em torno do nuclear – Índia, Israel e Paquistão mantêm boas relações com o Ocidente, apesar de terem desenvolvido armas nucleares secretamente – e o presidente Mahmmud Ahmadinejad ameaça com uma mudança de “comportamento” se sentir “pressão política” externa sobre o Irão.

Apesar da escalada de tensão entre Teerão e a comunidade internacional, Rússia e China devem vetar qualquer iniciativa de sancionar economicamente o Irão no Conselho de Segurança da ONU. O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês pediu ontem mais tempo para negociar, aconselhando prudência.

Segundo o jornal “Washington Post”, a Administração Bush encara propor um prazo de 30 a 60 dias para Teerão aceitar a proposta russa, ao fim dos quais a ONU actuaria.

Pedro Rios
Foto: AIEA