A bolsa de Lisboa abriu hoje, quarta-feira, de manhã, a reforçar os ganhos das últimas sessões. O índice das 20 maiores empresas (PSI 20) superou os 10 mil pontos, uma barreira psicológica que não era ultrapassada desde Abril de 2001.

Esta valorização vem na sequência de outras registadas desde que a SonaeCom lançou uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a Portugal Telecom. Segunda-feira foi a vez do Banco Comercial Português manifestar interesse no Banco Português de Investimento.

Analistas contactados pelo JPN sublinham a importância dos “sinais de vida” dados pelas grandes empresas nacionais. No entanto, acreditam que estas movimentações não significam crescimento económico nem criação de emprego.

Luísa Bessa, subdirectora do “Jornal de Negócios”, diz mesmo que “algumas das iniciativas anunciadas visam uma redução dos postos de trabalho nas empresas envolvidas”.

José António Ribeiro, especialista em economia da Universidade do Minho, vai mais longe e afirma que “a economia portuguesa estagnou e os sinais que têm sido dados são ainda muito ligeiros”. Já a professora da Faculdade de Economia do Porto, Maria Isabel Soares, diz que, apesar de não haver crescimento, “deve ser realçado o movimento de concentração que está em marcha”. A analista considera que a Autoridade da Concorrência “deve estar atenta” porque este tipo de movimentações podem trazer consequências drásticas para os sectores económicos mais desprotegidos.

Luísa Bessa garante que as movimentações bolsistas recentes “representam a chegada a um estado de reestruturação das grandes empresas que passaram por dificuldades nos últimos anos”.

Para José António Ribeiro, as movimentações “têm sobretudo a ver com a dinâmica financeira registada na União Europeia”. Segundo o economista, os sinais de confiança dos investidores, bem como os benefícios deste dinamismo são evidentes. No entanto, admite que, no caso da OPA lançada pelo BCP ao BPI, a criação do maior banco português pode despertar o interesse de investidores estrangeiros. “O mercado espanhol vai estar atento e é importante que os centros de decisão financeira não sejam adquiridos por investidores externos”, sublinha.

Maria Isabel Soares, especialista em assuntos económicos da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, classifica o conjunto de mexidas no mercado português de muito reduzidos. Mas adianta que se trata de um movimento de concentração sectorial elevado à escala mundial. “A economia portuguesa tem estado adormecida”, refere.

Confiança dos investidores

Ao avaliarem o momento da economia portuguesa, os analistas admitem que os investidores estão com os índices de confiança em alta. A jornalista Luísa Bessa diz que os empresários estão agora mais confiantes e satisfeitos com os sinais dados pelo Governo nas questões de ordem económica. No entanto, refere que “o grande trabalho tem sido feito pelas próprias empresas e reestruturação de que têm sido alvo”.

Maria Isabel Soares também fala em confiança, mas avisa que “os sinais de dinamismo económico devem ser analisados com reserva”. José António Ribeiro sublinha os bons indicadores fornecidos pelas grandes empresas nos últimos tempos. Quanto ao Governo, e os sucessivos anúncios de crescimento económico, “apenas tem feito o seu papel”, acrescenta.

Ivo Adão
Foto: SXC