O negro toma conta do palco e a Morte fala francês. “Fiore Nudo” sobe hoje, quinta-feira, ao palco do Teatro Nacional S. João (TNSJ), no Porto. Por lá fica até sábado, sempre às 21h30.

O tema central é a sedução e a vida de Don Giovanni, personagem criado na ópera com o mesmo nome de Mozart (1787). É ele o centro nevrálgico de toda a trama e o eixo sobre o qual gravitam todas as outras personagens.

Nuno M. Cardoso, dramaturgo e encenador da peça, explica: “‘Fiore Nudo’ é espécie de ópera. Não é uma ópera no sentido clássico do termo”. “É uma espécie de ópera porque parte de ‘Don Giovanni’ de Mozart, que é um drama jocoso, e é alterado pelo conceito de ‘Fiore Nudo'”. “Apoiei-me num poema de Paul Celan para chegar a este título”, revela.

“Isto não é Mozart. [A peça] parte de Mozart, como parte de Byron, de Celan, de mim, do Rui Massena [director musical] e de todos os outros criativos”, afirma o encenador.

A ideia para esta peça “começou com um convite do director do Teatro Nacional, Ricardo Pais, para fazer uma sequência sobre o Don Juanismo”, conta Nuno M. Cardoso. O cenário, por exemplo, é o mesmo que foi usado em “D. João”.

O encenador explica o tema da peça: “‘Don Giovanni’ porque é a temática do sedutor, com um riso pleno que termina com o esgar desse riso. ‘Don Giovanni’ não se rende”. “É uma peça que fala sobre beleza, sedução, sobre o despojamento de determinados valores e do amor numa perspectiva muito longínqua”, acrescenta.

Don Giovanni enxovalha o casamento e a justiça, pilares da sociedade, e “colecciona” mulheres, inconsciente dos seus actos. É uma personagem feliz que só no fim conhece a tristeza.

Em “Fiore Nudo” – que significa “Flor Nua” – a música é uma presença constante. É a musicalidade de cada personagem que as caracteriza, que traça o seu perfil psicológico. E a música na peça nasce apenas de um piano, um clarinete e um contrabaixo.

A direcção musical é da responsabilidade de Rui Massena. “O trabalho entre o Massena e eu foi de uma cumplicidade imediata”, confessa Nuno M. Cardoso.

“O espectáculo tem um registo próprio: é atrevido e perigoso e está numa linha de profanação de textos sagrados”, diz Rui Massena. Mas esclarece: “Não é uma profanação de Mozart”.

Gina Macedo
Foto: DR