Marcada para as 13h30, a audiência começou com meia hora de atraso, rodeada de fortes medidas de segurança. Na segunda audiência do caso Vanessa, ontem, terça-feira, foi ouvido o pai da vítima e cinco testemunhas do processo.

O pai da menina, Paulo Pereira, de 27 anos, confessou que consumia por dia em média seis pacotes de heroína ou cocaína o que justificava o seu estado de dependência. Paulo Pereira disse desconhecer que a filha era maltratada na casa da avó mas assumiu que não a visitava frequentemente porque não queria que ela o visse no estado de degradação em que se encontrava.

Na audiência de hoje, Paulo confessou ter levado o corpo desde o bairro do Aleixo até ao cais de Gaia na madrugada em que tomou conhecimento da morte da filha, alegando que não atirou o corpo ao rio Douro, mas apenas o depositou junto da margem, tal como a versão dada pela avó, Aurora, na primeira audiência.

O depoimento do pai da vítima ficou marcado por contradições em relação às primeiras declarações que deu à Polícia Judiciária (PJ) no dia em que foi detido. Hoje, Paulo Pereira afirmou que terá sido coagido na PJ e que na data do depoimento se encontrava “fortemente ressacado”, disse.

A tia paterna da menina, Marta, de 12 anos, foi ouvida por vídeo-conferência. Marta contou que na noite em que Vanessa morreu ouviu a mãe, Aurora e os irmãos, Paulo e Sandra, combinarem atirar o corpo da sobrinha ao rio Douro, embora tivesse dúvidas sobre a presença de Sandra na casa. Confirmou que na manhã de domingo, a mãe a acordou para irem à feira de Canidelo simular o desaparecimento da menina.

“A minha mãe explicou-me que a minha sobrinha tinha morrido e que tínhamos de ir fazer de conta que ela tinha desaparecido para não termos problemas mais tarde”, alegou Marta.

Hoje também foram ouvidas a mãe e a madrinha da criança. A mãe, Sónia Rodrigues, disse que desconfiava dos maus tratos por parte do ex-companheiro e da ex-sogra, mas explicou que deixou de ter contacto com a filha desde o dia em que ela foi tirada do cuidado da madrinha (em Dezembro de 2004, meses antes da morte da vítima a 30 de Abril de 2005).

Por sua vez a madrinha de Vanessa, Maria Rosa, confirmou que desconfiava dos maus tratos e que a menina lhe dizia “continuadamente e com medo” que não gostava de estar na casa da avó paterna.

Maria Rosa contou em tribunal que ligou para a casa de Aurora na tarde do dia 30 de Abril e que a avó de Vanessa a impediu de falar com a criança. Mais tarde, a madrinha da menina, ter-se-á deslocado ao Aleixo mas nem a avó, Aurora, nem a tia, Sandra, lhe disseram onde ela se encontrava.

Ainda nesta audiência, testemunhou a médica de família que acompanhou Vanessa entre 2001 e 2005, período em que a menina residia com a madrinha, Maria Rosa, em Gatões, Matosinhos. A médica do Centro de Saúde de Matosinhos, Maria José Albuquerque e Castro, disse que Vanessa apresentava um desenvolvimento normal em termos de altura/peso e mesmo a nível psicomotor e que não notava quaisquer anomalias na relação entre Vanessa e Maria Rosa, senhora que acompanhava sempre a menina às consultas de rotina.

Maria José Castro contou que numa das consultas efectuadas (dia 2 de Maio de 2002) a menina apresentava “reacções de ansiedade face à proximidade com o fim-de-semana, altura em que a criança ia para a casa dos avós paternos”.

Outra das testemunhas, médica no hospital da Prelada, Porto e especialista em cirurgia plástica, Maria de Fátima Duarte Barros, disse considerar “muito estranho que uma criança com 30% de queimaduras de segundo grau por todo o corpo não chorasse nem se queixasse e que era impossível pensar que essas feridas se poderiam curar sem internamento hospitalar”. Lembre-se que Aurora, a avó de Vanessa, declarou na primeira audiência que a neta “nunca chorava e se alimentava bem” e que estava a curar as feridas da criança em casa com “pomadas e pensos gordos colocados nas pernas”.

A próxima audiência ficou marcada para segunda-feira, 3 de Abril. Na parte da manhã serão ouvidas mais cinco testemunhas. No dia seguinte, pela tarde, serão ouvidas outras cinco testemunhas arroladas no processo. Para o dia 18 de Abril está prevista a leitura da sentença.

Paula Teixeira