Timor-Leste tem sido palco de contestações militares. As convulsões nas ruas de Díli têm levado ao pânico dos timorenses, que nos últimos dias se têm refugiado numa corrida às montanhas. Na origem dos conflitos está a evocação de discriminação étnica na progressão de carreiras de oficiais das Forças Armadas da Oeste de Timor. Os militares rebelaram-se e pedem ao Governo que estude a situação.

As convulsões de Timor-Leste têm dado azo a posições divergentes: uns acreditam que a situação do país vai acalmar e que não justifica a evacuação dos cidadãos, enquanto outros – como já fizeram ver os EUA, a Nova Zelândia e a Austrália – têm uma posição oposta, receando grandes demonstrações de violência nas ruas de Díli.

A embaixadora de Timor em Portugal, Pascoela Barreto, afirma ter sido informada hoje que a situação em Timor “está mais calma” e que “as pessoas já começam a regressar lentamente às suas casas”. A embaixadora acredita mesmo que para a semana “a vida se vai normalizar”.

Quanto à Comissão de Notáveis, hoje constituída numa cerimónia realizada no Palácio do Governo em que foram empossados os 10 membros a integrar – representantes dos órgãos de soberania, da Igreja Católica e da Sociedade Civil -, a embaixadora vinca que “vai funcionar” e que espera que os militares “venham a aceitar” qualquer averiguação da comissão, seja ela favorável ou não.

No entanto, apesar das boas perspectivas da embaixadora, nem todos pensam da mesma forma. Hélio Barros, jornalista do “Jornal Semanário de Timor” afirmou ao JPN que a “situação continua difícil” apesar do Governo ter cumprido o que prometera aos militares “peticionários”.

Da mesma forma pensarão os governos australiano e norte-americano. O primeiro-ministro australiano, John Howard, enviou um comunicado aos cidadãos australianos residentes em Timor a aconselhar a evacuação do país. O governo norte-americano tomou uma medida mais drástica, decretando a evacuação das unidades diplomáticas norte-americanas em Timor.

Pascoela Barreto acredita que a situação que se vive em Timor não justifica estas medidas, mas admite que se as autoridades australianas e norte-americanas tomaram essas medidas é porque “tiveram as suas razões”. A embaixadora afirma que as autoridades timorenses já emitiram um comunicado revelando que a situação não é tão alarmante e que, portanto, não percebe o “porquê dos alertas por parte da embaixada australiana e da embaixada norte-americana”.

Segundo a agência Lusa, a embaixada de Portugal em Díli não põe de lado a hipótese de evacuação dos cidadãos portugueses. A embaixada continua atenta à situação e a alertar os cidadãos para que não saiam de casa durante a noite.

Para que o Governo timorense resolva os conflitos com os militares “peticionários”, a embaixadora de Timor em Portugal acredita que o diálogo é a única saída. “Havendo total abertura por parte do Governo, julgo que não haverá mais problemas”, diz Pascoela Barreto.

Rita Pinheiro Braga