A carta enviada pelo presidente iraniano (na foto) ao chefe de Estado norte-americano critica vários aspectos da governação de George W. Bush, em particular a actuação na guerra do Iraque, sem fazer alusão directa à polémica actual em torno do programa nuclear. O conteúdo da missiva é citado pela Associated Press.

A única alusão possível ao programa acontece quando Mahmoud Ahmadinejad questiona: “Porque é que qualquer progresso tecnológico e científico conseguido no Médio Oriente é visto como uma ‘ameaça para o regime sionista [de Israel]’? Não será a pesquisa científica um dos direitos básicos das nações?”.

O argumento está na linha do que Teerão tem utilizado para defender o seu programa nuclear, invocando a produção de energia como fim único da pesquisa neste domínio. Mas os Estados Unidos e a Europa desconfiam das intenções de Ahmadinejad e acreditam que Teerão quer desenvolver armas nucleares.

Na carta de 18 páginas enviada a Bush – provavelmente a primeira enviada por um líder iraniano a um presidente norte-americano desde a revolução iraniana de 1979 -, Mahmoud Ahmadinejad afirma que foram ditas “mentiras” aquando da invasão do Iraque. O presidente iraniano pede ainda que Bush seja mais religioso e sugere que os EUA esconderam elementos sobre os ataques de 11 de Setembro.

A secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, reagiu, afirmando que o texto não traz nada de novo e que não contribui para a resolução da crise nuclear.

Responsáveis dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, China, Rússia, Reino Unido e França) não conseguiram chegar a um consenso nos encontros que mantiveram ontem e hoje em Nova Iorque. Rússia e China opõem-se a qualquer resolução que admita a possibilidade de impor sanções ou avançar para acções militares contra o Irão.

George W. Bush reafirmou, hoje, a diplomacia como a “primeira opção” na resolução da crise em torno do dossiê nuclear iraniano.

Pedro Rios
Foto: DR