Em 2000, Hugo Chavez foi eleito presidente da Venezuela, sob o argumento de que devolveria o poder ao povo. Recebeu perto de 60% dos votos, numas eleições com 44% de abstenção. Em Dezembro de 2005, o líder dos “cocaleros” bolivianos, Evo Morales, tornou-se o primeiro presidente da Bolívia a ser eleito com mais de 50% dos votos, atingindo os 54%.

Ambos se opõem terminantemente ao neoliberalismo que dizem ser advogado pelos EUA e, em conjunto com o presidente cubano, Fidel Castro, agruparam-se na Alternativa Bolivariana para as Américas, que propuseram como forma de contornar a Área Livre de Comércio das Américas, criada por iniciativa dos EUA e que estabeleceria uma zona de comércio livre dentro do continente americano.

Vários analistas têm alertado para um crescimento da “esquerda radical” na América Latina, num possível “efeito dominó” depois das tomadas de posse de Chavez e Morales, particularmente em ano de eleições na maioria dos países do continente.

Na opinião do coordenador do Europe and Latin America Research Program, sediado no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Andrés Malamud, a divisão entre esquerda e direita “não faz sentido” quando aplicada a Chavez, Morales ou mesmo ao candidato às presidenciais peruanas, Ollanta Humala. O especialista considera que o tipo de política exercida pelas três figuras é o “típico populismo latino-americano”, que “muitas vezes é mais de direita do que de esquerda”.

O antigo director do Latin American Centre da Universidade de Oxford, Alan Angell, explica que é ao “cansaço político” que se devem as eleições de Chavez e Morales. “Na Venezuela, o sistema partidário é obviamente corrupto e sofre de problemas económicos”, afirma Angell. “No caso da Bolívia, penso que aumentou a sensação de que o sistema partidário é um assunto de elites e não foi dada atenção nenhuma aos interesses da população”, esclarece o académico.

“Desastre completo” na Venezuela

Quando questionado sobre se acredita que os interesses das populações podem ser satisfeitos por esses governos, Alan Angell prontamente afirma que não. “No caso da Venezuela, está a ser um desastre completo”, diz, fazendo a ressalva de que ainda é cedo para avaliar Evo Morales. Mas desenvolve: “a única maneira de satisfazer os interesses da populações é ao construir-se instituições democráticas responsáveis”.

Classificando Chavez como “um palhaço”, “profundamente anti-democrático”, o especialista de Oxford considera o presidente venezuelano uma ameaça à democracia.”Penso que Chavez é um radical nacionalista de estilo antigo”, diz.

Em relação aos EUA, Andrés Malamud afirma que “enquanto a Venezuela continuar a vender petróleo e gás aos EUA, o resto é espuma”, representando apenas uma “ameaça para a estabilidade regional”. Mas o especialista de origem argentina vai mais longe: “se não fosse pelo petróleo e pelo gás não estávamos cá a falar de ideologia”. “Só que a ameaça não provém da sua origem ideológica, provém da sua posição de recursos naturais necessários para o resto dos países – petróleo e gás”, explica Andrés Malamud.

Ambos os académicos referem o Chile da recém-eleita Michelle Bachelet como um país que está a conseguir níveis “admiráveis” de sucesso económico.

Tiago Dias
Foto: MIR-Chile