Especialistas concordam em que Portugal não está a aproveitar o potencial do território para desenvolver uma relação económica mais intensa com a China.

A experiência portuguesa construída em relação à China através de Macau é actualmente relevante apenas em termos de proximidade, segundo Fernanda Ilhéu, secretária-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCIL-C).

“Obviamente que temos um maior contacto com o governo chinês que poderá servir de benefício pelo maior conhecimento que possibilita, mas em termos europeus só temos uma verdadeira vantagem se formos igualmente competitivos”, diz ao JPN.

Tanto a Espanha como a França têm vindo a assinar vários protocolos de cooperação económica e até cultural “pelo que não podemos confiar no nosso passado comum e esperar que isso constitua uma vantagem. A China é muito pragmática: amigos amigos, negócios à parte”, refere a secretária-geral da CCIL-C.

Pragmática ao ponto de não deixar que diferenças políticas interfiram na cooperação financeira. Apesar das longas quezílias com Taiwan e mesmo com os EUA, a China tem vindo a firmar cada vez mais acordos de cooperação empresarial com esses países, não deixando que problemas de índole diplomática impeçam um crescimento e interacção financeiras estáveis, explica Fernanda Ilhéu.

A secretária-geral da CCIL-C alerta, contudo, para a necessidade de avaliação dos mercados de porta de entrada, que são mercados semelhantes àqueles em que se deseja a implementação da empresa, mas que não possuem o mesmo nível de dificuldade de penetração, seja pela maior proximidade ou pelo maior conhecimento que se possui desse mercado.

“Hong Kong, Singapura e Macau reúnem essas condições, sendo imperativo seleccionar a região que permita a entrada mais suave no mercado pretendido, em conjunção com o sector que se pretenda explorar, sendo certos mercados mais propícios a têxteis, outros à indústria química, por exemplo”, diz.

Teresa Moreira, da Autoridade da Concorrência (AdC), considera que o subaproveitamento das condições farováveis a uma relação mais produtiva com a China “resulta, em grande medida, de outras prioridades políticas definidas para as relações económicas externas de Portugal e da consequente preferência das empresas portuguesas por outros mercados, mais próximos, mais familiares, talvez mais acessíveis”.

A vogal do Conselho da AdC acredita que, ainda assim, após a criação da Região Administrativa Especial e Macau (RAEM), o quadro jurídico vigente (“muito influenciado pelo direito português”) e a presença de empresas e de interesses portugueses podem proporcionar condições vantajosas para desenvolver negócios centrados neste território.

Teresa Moreira disse ao JPN “que Macau tem, para Portugal, muito a oferecer, não só no relacionamento privilegiado com a China continental, um enorme mercado em crescimento acelerado, mas com outras economias dinâmicas da Ásia”.

Para a vogal do Conselho da AdC, o passado português com Macau “pode ser um ponto de partida para reavivar as relações económicas com alguns países da Ásia, sendo necessário construir e alimentar esse relacionamento, o que exige o envolvimento político e a manifesta adesão das empresas portuguesas e das suas estruturas associativas”.

André Sá