“Macao”, o filme de Joseph von Sternberg de 1952, retrata o território como “uma antiga e bizarra colónia portuguesa” e como “o Monte Carlo do Oriente”. Tendo passado para a administração chinesa em Dezembro de 1999, tem vindo desde então a crescer a um ritmo galopante. Macau é hoje em dia uma potência em si mesma, com rendimentos provenientes do jogo prestes a ultrapassar Las Vegas.

A diferença que constitui na Ásia, devido à arquitectura e cultura portuguesas que se mantêm preservadas, originou também um fluxo turístico de luxo que desde então tem enriquecido o território.

Em Julho de 2005, a zona histórica de Macau foi classificada como herança cultural histórica pela UNESCO. Macau é agora uma cidade turística internacional pela história, cultura e lazer que proporciona.

A sua transição para a administração da República Popular da China foi realizada harmoniosamente, sem artritos de cariz diplomático, ao contrário da passagem de Hong Kong, por exemplo, a que os jornais locais se referiram como o “fim de séculos de imperialismo”.

Para a secretária-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCIL-C), Fernanda Ilhéu, tal deve-se sobretudo ao facto de Macau estar na altura “mais avançado no processo de democratização. Já havia uma representação da comunidade chinesa na assembleia de Macau e na discussão dos problemas do território o governo português sempre ouviu as comunidades cívicas representativas chinesas”, diz ao JPN.

Fernanda Ilhéu, autora do livro “A Internacionalização das Empresas Portuguesas e a China”, lançado em Abril, considera que Hong Kong, por outro lado, endureceu as suas posições de negociação ao fazer exigências e estratégias de confronto. “Havia um convencimento de que o governador de Hong Kong tinha um projecto de poder pessoal em Inglaterra o que poderá ter influenciado a sua linha de comportamento político mais adequada a olhos ingleses”, refere.

Macau como vantagem para as relações económicas luso-chinesas

A secretária-geral da CCIL-C, que viveu 18 anos em Macau, considera que o facto de Portugal ter administrado o território macaense não pode ser considerado um factor de grande vantagem em termos de preferência pelas relações económicas com o nosso país.

“O próprio governo português em Macau sempre teve o cuidado de decidir o que seria melhor para o território, obviamente sem entrar em conflito com os interesses lusos, mas sempre fazendo questão de não escolher uma empresa portuguesa só por ser portuguesa”, adianta.

Uma empresa só ganharia um determinado concurso se reunisse as condições necessárias, o que foi algo que, segundo Fernanda Ilhéu, os empresários portugueses rapidamente aprenderam. Teriam de competir em igualdade de circunstâncias com empresas de todo o mundo.

“Se conhecerem como funciona o sistema macaense, se têm pessoas nos seus quadros que viveram em Macau e sabem quem é quem no território, além de saberem como se consegue fazer aprovar as propostas e quem nos consegue ajudar nesse sentido, então claro que estará em vantagem em relação a uma empresa americana que não conheça minimamente o território”, refere Fernanda Ilhéu, advertindo que essa vantagem será puramente pragmática e vinda da experiência que Portugal já tem nas relações com o território.

Já Teresa Moreira, vogal do conselho da Autoridade da Concorrência (AdC), considera que o governo português “se empenhou fortemente nos últimos 10 anos, antes da entrega de Macau à República Popular da China e nos anos que se seguiram, em estabelecer condições que permitissem às empresas portuguesas utilizar Macau como uma plataforma para a China continental, susceptível de ser estendida também para outros destinos apelativos na Ásia do Sul”.

Segundo Teresa Moreira, para além da determinação política e de reuniões oficiais, foram organizadas missões comerciais e incentivados projectos de parcerias, com a colaboração de diversas associações empresariais.

Curiosamente, é a China que toma a maior parte das iniciativas de desencadear a ligação com os países lusófonos através de Macau e não tanto Portugal.

André Sá
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