Foi sucessivamente apresentado pelo vocalista venezuelano Argenis Brito como “el maestro”. Señor Coconut foi o único músico que ontem, quarta-feira, na sala 2 da Casa da Música, não demonstrou qualquer entusiasmo pela dança e movimentos latinos.

Sereno ante o seu “laptop” e controlando os ritmos e a entrada dos instrumentos da orquestra através de meros trejeitos faciais, o alter-ego de Uwe Schimdt assumiu uma postura de exagero profissional que cedo se revelou cómica perante a dinâmica e fulgor caribenhos dos restantes músicos.

Entre a apresentação de temas do registo “Yellow Fever”, de cariz marcadamente “merengue” mas refrescado por ritmos e “samples” electrónicos estranhamente familiares ao “techno”, o público foi presenteado com o que é já o som de marca de Señor Coconut e que dificilmente terá par em qualquer outro projecto musical: versões salsa, merengue e cha-cha-cha de temas de Doors, Sade, Michael Jackson, Deep Purple e Kraftwerk.

Se em “Smooth Operator” de Sade, “Beat it” de Michael Jackson e “Smoke on the Water” dos Deep Purple a tranfiguração latino-americana funciona e incita à participação e dança do público (no caso de “Beat it” pode ser dito que até melhorou o tema), já em “Riders on the Storm”, dos Doors, a adaptação para o salsa-merengue assumiu contornos já um pouco forçados, mas que retratam na perfeição o “kitsch” pretendido pelo “maestro” Coconut.

“Tour de France” dos Kraftwerk terá sido o tema mais aclamado e dançado do concerto que se prolongou durante mais de duas horas, e que primou pelo virtuosismo de todos os componentes da Yellow Magic Orchestra, tanto na secção de sopros, como pelos dois executantes de xilofone. Entre solos impressionantes executados por todos os músicos, Argenis Brito demonstrou também um à-vontade e empatia com o público notáveis.

O concerto terminou com Señor Coconut sozinho em palco, novamente compenetrado no seu “laptop” decorado com uma imagem de duas maracas. Após uma última demonstração de efeitos e ritmos electrónicos agressivos, “el maestro” sussurrou um cordial “thank you” e, muito profissionalmente, saíu.
Pelo caminho deixou uma sensação de estranheza e inegável originalidade.

André Sá
Foto: Carina Branco