A FRETILIN anunciou que o primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, não se demitirá, contrariando o ultimato do Presidente da República, Xanana Gusmão. O secretário-geral adjunto do partido maioritário em Timor-Leste, José Reis, afirmou que se trata da “posição da FRETILIN” apoiar a permanência do chefe de governo no cargo.

O presidente timorense já reagiu e manifestou a intenção de se demitir amanhã, se Alkatiri não assumir responsabilidades na actual crise em Timor-Leste. Na mensagem dirigida ao país, Xanana Gusmão admitiu ter “vergonha pelo que o Estado está a fazer ao povo” e “não ter coragem” para enfrentar a população.

“Vou mandar um documento ao Parlamento Nacional, para informar que vou sair de Presidente da República”, afirmou o chefe de Estado, que amanhã terá um encontro com o primeiro-ministro e o presidente do Parlamento, Francisco Guterres. Ontem, a FRETILIN anunciou a reunião para hoje, mas Xanana pediu o seu adiamento por 24 horas.

Se Xanana Gusmão confirmar, amanhã, a demissão, o presidente do Parlamento, Francisco Guterres, assumirá a chefia do Estado. Francisco Guterres, também conhecido por “Lu-olo”, preside à FRETILIN, o partido no poder, cujo secretário-geral é Mari Alkatiri. A Constituição de Timor-Leste diz que “o Presidente da República pode renunciar ao mandato em mensagem dirigida ao Parlamento Nacional”.

Mari Alkatiri consultou hoje o “núcleo duro” do executivo e da FRETILIN, depois de Xanana ter exigido a sua demissão por carta, na terça-feira. O presidente confessou ter perdido a confiança no primeiro-ministro devido a “graves denúncias sobre o seu envolvimento na distribuição de armas a civis”, expostas num programa da televisão australiana. O secretário-geral da FRETILIN anunciara, ontem, que só consideraria demitir-se se essa fosse a vontade do seu partido.

Primeiro-ministro não se demite, mas abandona a pasta do petróleo

Mari Alkatiri afirma que não deixa o cargo de primeiro-ministro, mas anuncia que considera abandonar a pasta de Recursos Energéticos. A proposta foi apresentada e aprovada na reunião de hoje da Comissão Política Nacional (CPN) da FRETILIN e passa, também, pela nomeação de um ou dois vice primeiros-ministros.

Segundo Alkatiri, trata-se de uma proposta “para mostrar flexibilidade e abertura”. Entretanto, o primeiro-ministro afirmou que o partido está a “fazer tudo para controlar” os militantes nos distritos, que se mobilizaram na sequência da notícia de que Xanana exigira a demissão de Alkatiri.

O cenário completa-se com o presidente timorense a acusar a direcção da FRETILIN, saída do recente congresso do partido e liderada por Alkatiri, de ter comprado votos. Xanana alega que a votação foi feita por braço no ar, em vez de voto secreto, e invoca a lei dos partidos políticos para questionar a sua legitimidade. No congresso de de 17 a 20 de Maio, Mari Alkatiri foi eleito secretário-geral do partido com 97,1% dos votos dos delegados.

Carina Branco
Foto: FMI