O antigo director do departamento de infografia do jornal espanhol “El Mundo” analisou, a convite do JPN, alguns jornais portugueses que usam desenhos gráficos para ilustrar o 11 de Março, em Madrid. Alberto Cairo reconhece que a infografia é ainda considerada “um género menor” e que um jornal de referência deveria ter, no mínino, oito infografistas.

Um jornal nacional e de referência, quantas pessoas deve ter no departamento de infografia?

Depende muito das suas vendas. Em Espanha, o “El Pais”, que vende cerca de 400 mil exemplares por dia, tem oito infografistas impressos e dois “online”. O “El Mundo”, que vende cerca de 330 mil exemplares, tem oito ou nove pessoas no impresso e cinco no online. Mas há jornais mais pequenos, como “La Voz de La Galicia”, que tem seis pessoas na infografia impressa e nenhuma na “online”.

Então, um diário como o “Público”, que tem três infografistas, ou o “Diário de Notícias” (cinco), quantos profissionais deveria ter?

Eu diria que um periódico de referência e de qualidade de um país deve ter, no mínimo, sete pessoas no departamento infográfico impresso e uma no online (no mínimo). Mas têm de trabalhar em equipa.

O que pensa do trabalho dos jornais portugueses ao nível infográfico?

Conheço pouco da imprensa portuguesa, no que concerne à infografia. Conheço o trabalho do “Expresso”, que faz uma infografia muito boa em geral. O “Público” também tem alguns gráficos interessantes. O que reparei é que os jornais portugueses tendem a usar infografias de agência, não de produção própria. Usar gráficos de agência é como usar notícias de agência, retira prestígio.

Analisando o exemplo do 11 de Março, em que os diários recorreram muito a gráficos, como é que está a infografia?

O “Público” está bem organizado, usando exactamente o gráfico que publicou o “El Pais”. O “Jornal de Notícias” usa, também, um gráfico muito organizado, feito no próprio jornal. No “Correio da Manhã”, todas as bombas a explodir são prescindíveis. É dar espectáculo. É um gráfico muito confuso e não ajuda nada o excesso de cor. Nem se sabe por onde começar a ler.

No caso de um atentado, os infografistas têm de reagir com muita rapidez. Como é que se gere a urgência jornalística das “breaking news” com a produção de reportagens multimédia?

Este tipo de situações é sempre muito difícil, porque fazer uma reportagem infográfica é muito mais complexo do que escrever uma notícia. Posso escrever uma notícia em cinco minutos, mas uma infografia não. À medida que se enfrentam estas situações, adquirem-se mais conhecimentos tecnológicos e velocidade. Por outro lado, desenvolvemos técnicas de trabalho em equipa.

Quais são as principais diferenças entre a infografia impressa e a “online”?

Há muitas. A principal é que a infografia “online” é, obviamente, animada, interactiva e multimédia. Pode-se sequenciar a acção, o que é muito difícil de fazer num papel. E pode-se juntar interactividade e deixar que o leitor maneje os gráficos, mude a informação. Pode-se também incorporar áudio, vídeo, animações em 3D. Ao mesmo tempo, o espaço disponível em papel é limitado, na internet não. De uma forma que se tem uma capacidade ilimitada de proporcionar contexto.

Há muito mais vantagens no “online” do que no papel?

Sim. Mas, ao mesmo tempo, tem algumas desvantagens. Por exemplo, a qualidade da imagem não é a mesma que no meio impresso. Em papel, o espaço físico é maior do que na internet, mas na internet considera-se espaço-tempo e é ilimitado.

Num gráfico em papel controla-se o espaço e num gráfico online controla-se o tempo e o espaço?

Claro, isso é a sequenciação da acção. Em papel, apresenta-se logo toda a informação: título, diagrama, tabela, cronologia. Na internet, não se faz da mesma maneira, sequencia-se a acção. Dá-se a possibilidade ao leitor de aceder a cada peça de informação através de links.

O tempo é a quarta dimensão. E a interactividade?

Sim, a quarta dimensão é o tempo. Na internet, chamo à “quinta dimensão” a interactividade, a possibilidade de ter “links”, que levam a peças específicas. Mas a interactividade significa também a possibilidade de manipular a informação. Por exemplo, no caso de uma partida de futebol, o leitor pode manejar os jogadores.

Aplicando a interactividade ao jornalismo, o leitor ao transformar-se num co-autor, não acaba por perverter o poder autoral do jornalista?

Não. Tudo depende de como se apresenta a informação. Olhemos para o mapa do “New York Times” das eleições presidenciais de 2004, nos Estados Unidos. Primeiro, apresentam-se os resultados definitivos. Depois, dá-se a possibilidade ao leitor de mudar os estados para ver onde deveria ter ganho John Kerry para ganhar a eleição. Não se perverte em nada a informação.

O jornalista não perde poder?

Não, porque não se dá a liberdade absoluta ao leitor de fazer o que quer. Dá-se liberdade dentro de parâmetros específicos.

Qual é o estatuto da infografia? Vai estar sempre dependente do jornalismo, é uma linguagem menor?

Não. A infografia usa-se para muitos campos, não apenas no jornalismo. Qual vai ser o seu futuro? Não sei. É um género menor agora mesmo? Sim, porque muitos jornais consideram-na como algo secundário, o que é um erro. Mas creio que isso vai mudar com o tempo, assim que se compreenda o poder deste tipo de representações para apresentar a informação.

Texto e foto: Carina Branco