Terminou hoje, sexta-feira, de manhã, a participação de oito estudantes portugueses, sete deles da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), numa missão da Agência Espacial Europeia (ESA), em Bordéus, França. Os estudantes participaram em voos parabólicos, praticamente o único meio na Terra capaz de reproduzir o efeito da gravidade zero com humanos a bordo.

“Correu bem. Os alunos tinham um projecto, conseguiram chegar à fase de voar. Foi uma troca enriquecidedora com outros grupos, outras formas de trabalhar. Do ponto de vista da realização da experiência, foi um sucesso”, conta ao JPN Carla Carmelo Rosa, do departamento de Física da FCUP, que orientou, em conjunto com Hélder Crespo, a missão portuguesa. A docente sublinha que os projectos “abrem perspectivas para fazer aplicações [práticas]”.

Os alunos, divididos em duas equipas (“Heavy Metal” e “SkySickers”), realizaram, nos últimos dias, experiências científicas a bordo do avião espacial A300 Zero-G. Até Novembro, já em Portugal, serão estudados os dados recolhidos, que podem permitir conhecer dois fenómenos até aqui não estudados.

A equipa “Heavy Metal” estudou os modos de vibração de uma esfera de mercúrio. Em função dos resultados, “podem ser desenvolvidos sensores de medição de alta precisão de ondas acústicas muito bem definidas”, explica a professora da FCUP. A ideia é “poder usar a esfera de mercúrio como elemento sensível às vibrações que são as ondas acústicas”.

Por seu turno, a “SkySickers” estudou a transição do estado líquido para o gasoso no espaço, diferente do que a que acontece na Terra devido à ausência de gravidade. Os resultados podem ser úteis à construção de dispositivos que envolvam este tipo de transições (como aparelhos de ar condicionado) capazes de funcionar bem no espaço. O sistema de vibração da experiência da “SkySickers” despertou mesmo a atenção de um cientista francês.

A FCUP foi a única faculdade com dois projectos distinguidos entre os 31 aprovados. Foi a terceira vez consecutiva que o departamento de Física desta faculdade participa em projectos da ESA.

Um “mundo aparte”

Em cada voo, o avião efectua primeiro uma subida vertiginosa de 7.600 metros, o que gera uma aceleração de 1.8g (ou seja, 1.8 vezes a aceleração da gravidade no solo) – “colamos ao chão”, descreve Lídia del Rio, da “Heavy Metal”. Depois, o avião cai a pique durante 20 segundos, e “flutua-se”, prossegue a estudante da Universidade de Aveiro, que se juntou à equipa da FCUP.

A sensação de voar é “espectacular”, mas Lídia del Rio destaca o “contacto com investigação em tempo real, com trabalho de oficina e laboratório”, um “mundo aparte” do ambiente universitário.

“Na faculdade não nos ensinam nada do que é fazer um projecto. É uma mais-valia para qualquer aluno porque são coisas que só aprenderíamos quando fôssemos trabalhar ou num projecto final do curso”, refere Francisco Silva, aluno na FCUP.

Para além dos voos, os estudantes tiveram que procurar patrocínios junto de empresas, que contribuíram monetariamente ou cederam equipamento. Os projectos foram apoiados pela Universidade do Porto, Ciência Viva e Fundação Calouste Gulbenkian.

Pedro Rios
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Foto: ESA