Os bolseiros de investigação científica querem uma resposta clara do Governo quanto à aplicação das verbas para a ciência, que cresceram 64% no Orçamento de Estado para 2007.

“É pertinente perguntar quanto dinheiro será utilizado para melhorar a situação daqueles que trabalham em ciência”, afirma o presidente da direcção da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), João Ferreira.

A associação, que representa os cerca de oito mil bolseiros portugueses (números de 2003), organizou uma concentração hoje, pelas 17h, em frente à Assembleia da República com o tema “Cientistas nas Lonas”.

Entre os motivos do protesto, que reuniu cerca de 200 pessoas nas contas da ABIC, estiveram a falta de perspectivas de emprego depois do período da bolsa, bem como a “ausência de protecção social digna”.

Os bolseiros estão à margem do regime geral de segurança social e não têm direito a subsídios de desemprego ou férias. As remunerações já não são actualizadas há quatro anos e são muito inferiores às dos trabalhadores dos quadros, refere o dirigente associativo.

“Contradição” entre discurso e prática

A ABIC aponta que o estatuto de bolseiro tem sido utilizado para manter o funcionamento dos centros de investigação, cujos quadros estão bloqueados. O Governo deve, por isso, permitir a contratação de mais investigadores para “dar o exemplo” ao tecido empresarial português, “pouco motivado” para o emprego científico.

“As bolsas só se devem justificar nas situações de mestrado e doutoramento. Fora disso, mesmo que esteja em formação, o investigador deve ter um contrato de trabalho”, defende o responsável, citando as recomendações da Carta Europeia do Investigador, que aponta para condições de trabalho justas e atractivas e para a não discriminação dos jovens investigadores em início de carreira.

Para João Ferreira, “não tem havido medidas que permitam alterar a situação significativamente”. A ABIC alerta para a “contradição” entre os discursos político e económico, que têm dado nos últimos anos um papel central à ciência, e a prática. “[A situação actual] afecta o desempenho das pessoas. Quem perde é o país. Muitos acabam por ir para outros países”, refere.

Para a associação, os centros de investigação deviam absorver pelo menos dois mil investigadores até 2010, e não mil como propõe o Governo, para reduzir o atraso comparativamente a outros países.

Pedro Rios
prr @ icicom.up.pt
Foto: Liliana Rocha Dias/Arquivo JPN