Duas investigadoras, uma estudante de doutoramente e outra de pós-doutoramento do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) da Universidade Nova de Lisboa determinaram pela primeira vez em Portugal a estrutura tridimensional de uma proteína ligada à membrana celular.

As investigadores do ITQB identificaram o complexo proteico que permite a respiração dos microrganismos anaeróbios sem recurso ao oxigénio. Chama-se “citocromo c nitrito reductase”. A descoberta é um importante passo pois permite compreender como é que existe vida sem oxigénio.

O estudo, que começou em 2000, foi anunciado hoje na edição “on-line” da revista EMBO Journal com um artigo que se intitula “X-ray structure of the membrane-bound cytochrome c quinol dehydrogenase NrfH reveals novel haem coordination”.

No estudo participou Inês Cardoso Pereira e Margarida Archer, investigadoras auxiliares, Maria Luísa Rodrigues, investigadora em pós-douturamento, e Tânia F. Oliveira, estudante de doutoramento, todas do ITQB.

Os microrganismos anaeróbios estão presentes em todos os habitats onde o oxigénio não chega, como o intestino humano, e têm que recorrer a outras alternativas para respirar.

A estrutura revelada pelas jovens investigadoras mostra como funciona o complexo membranar “citocromo c nitrito reductase” na cadeia respiratória de bactérias que utilizam o nitrito. Ela desempenha um importante papel no ciclo global do azoto, ao converter o azoto inorgânico numa forma utilizável por outros organismos.

“Foi bastante difícil isolar a proteína e fizemos imensos ensaios. Torna-se difícil porque a técnica usada requer a purificação e cristalização da proteína”, explicou ao JPN Inês Cardoso Pereira.

Aplicações práticas

A aplicação prática desta inovadora descoberta passa pela utilização da proteína na descontaminação de solos ou ambientes aquáticos. A este processo chama-se biorremediação que se explica pelo uso de microrganismos ou suas enzimas para degradar compostos poluentes.

“Há problemas nos solos por causa dos lixos radioactivos, como é o caso do urânio. O urânio espalha-se pelos lençóis freáticos e polui o solo. Então usa-se a biorremediação com esta proteína para reduzir o urânio, pois a proteína não é solúvel em água”, afirma a investigadora.

Joana Vasconcelos
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