O antigo ditador iraquiano Saddam Hussein reagiu hoje à confirmação da pena de morte por enforcamento anunciada ontem pela comissão de apelo do Alto Tribunal Iraquiano. A sentença tornará Saddam num “verdadeiro mártir”, disse o próprio.

Numa carta dirigida ao “povo iraquiano”, escrita na prisão e autenticada pelos advogados, Saddam escreve: “Entrego-me ao sacrifício. Se Deus quiser, irá colocar-me junto dos mártires e dos verdadeiros homens”.

Os advogados de Saddam Hussein pediram aos governos árabes e às Nações Unidas que tentem impedir o enforcamento do antigo Presidente iraquiano.

Numa carta citada pela agência Associated Press, a defesa do ex-ditador afirma que “todos podem estar a participar no que está a acontecer, directamente ou através do seu silêncio perante os crimes que estão a ser cometidos no Iraque em nome da democracia”.

O ex-presidente iraquiano está detido pelo Exército norte-americano num local mantido em segredo. De acordo com as palavras de Saddam, os Estados Unidos da América (EUA) e o Irão estão por trás da violência e do banho de sangue que decorrem no Iraque.

Segundo a lei iraquiana, o ex-ditador terá de ser enforcado no prazo máximo de 30 dias a partir da data da confirmação da sentença. No entanto, o ministro da Justiça iraquiano, Hashem al-Shibli, já afirmou que o cumprimento da pena vai levar algum tempo e que não acontecerá este ano, devido a procedimentos burocráticos e às celebrações da festa muçulmana do sacrifício, a Eid El-Adha, que começa no dia 30.

Saddam Hussein foi condenado ao enforcamento pela responsabilidade na morte de 148 xiitas na aldeia de Dujail, em 1982, segundo a sentença do Alto Tribunal Iraquiano. Actualmente, decorre um julgamento em que o ex-ditador e seis antigos dirigentes são acusados de terem posto em prática as campanhas militares de Anfal, no Curdistão, que resultaram na morte de 180 mil curdos.

Opiniões divergentes

A comunidade internacional reagiu de formas diferentes à confirmação da pena de morte de Saddam. Washington saudou a decisão enquanto que Bruxelas pediu ao Supremo Tribunal Iraquiano que a sentença não seja executada.

O povo iraquiano também está dividido com a confirmação da sentença. Um porta-voz do líder xiita radical, Moqtada Sadr, considerou a decisão “um presente” para o povo iraquiano, apelando que o enforcamento de Saddam seja transmitido em directo para todo o mundo islâmico.

Por outro lado, fontes do partido Baas, que apoiava Saddam e que hoje está dissolvido, ameaçaram atacar os interesses norte-americanos em todo o mundo, caso o antigo ditador seja executado.

Alice Barcellos
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Foto: DR