A exploração de estudantes nas redacções “é uma situação recorrente no sector, a começar pelos principais jornais”, afirma o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Alfredo Maia. O sindicato divulgou, ontem, um comunicado onde denuncia o trabalho “ilegal” dos estudantes nas redacções.

“Este problema está generalizado há alguns anos”, refere Alfredo Maia ao JPN. Trata-se de “exploração de trabalho ilegal, gratuito e de fuga aos impostos”. O SJ não está contra a presença dos estudantes nas redacções – o que não podem fazer é “interferir no processo produtivo”, sublinha.

Os estudantes são vítimas de uma situação que, segundo o presidente do SJ, é “culpa das empresas e das instituições de ensino que lançam os jovens às feras”. Muitos estudantes pensam que o “estágio pode ser uma oportunidade de emprego e acabam por ser vítimas desta situação”.

Segundo o comunicado do SJ, algumas empresas despedem jornalistas por contarem com o trabalho dos estudantes. “As empresas, como têm a oportunidade de irem explorando estudantes, não vão contratar novos profissionais”, explica Alfredo Maia.

Se o trabalho dos estudantes é necessário nas redacções “então eles deviam ser contratados”. “As empresas estão a lucrar com as ilusões e expectativas destes jovens”, aponta.

Além de ser um trabalho “imoral”, é também “ilegal”. “Só pode trabalhar quem tiver vínculo com a empresa e, no jornalismo, só quem tiver título profissional”. Segundo o SJ, o trabalho dos estudantes nas redacções é também uma forma de “concorrência desleal” com os profissionais do sector e “pode prejudicar a qualidade da informação”.

“Este problema tem que ser resolvido”, sublinha o presidente do SJ, que espera que a situação seja analisada pela Inspecção do Trabalho, Segurança Social e Administração Fiscal.

Alfredo Maia refere ainda que “algumas instituições de ensino têm um comportamento decente com os estudantes, enquanto outras lançam os jovens às feras”.

Em alternativa, “o SJ propõe um modelo de ‘estágio tipo’, em que o estudante tem a oportunidade de observar o trabalho numa redacção”, sem, no entanto, participar no processo de produção.

Alice Barcellos
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Foto: Arquivo JPN