É a primeira incursão do Governo português na blogosfera: o blogue “A Nossa Opinião“, lançado esta semana, é mantido pelo ministro da Administração Interna e pela sua equipa. Um dos objectivos, a julgar pelos primeiros três textos publicados, é responder às opiniões de colunistas de jornais.

“Não é contra a opinião de ninguém, é normalmente em diálogo, de forma civilizada, cordata, criativa, de discussão de ideias, sem ataques. O nosso estilo é dialogante e democrático”, explicou esta quarta-feira ao JPN o secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, José Magalhães.

A notícia foi bem recebida entre a comunidade “blogger” portuguesa, que assinala o mérito da política fazer uso de novas tecnologias que potenciam o diálogo e a troca de ideias. Porém, há receios que este seja apenas mais um “tempo de antena” do Executivo.

O politólogo e autor do blogue “Macroscópio” Rui Paula de Matos considera “positiva” a entrada do Executivo na blogosfera, mas espera que o “site” sirva “os interesses da sociedade e não do Governo”. Para já, nota pelo menos um objectivo político: “vender a ideia que [António Costa] está num Governo altamente modernizado”.

“O Governo comunica bem. Sócrates faz bem o ‘gatekeeping’, trava o que quer travar”, observa Rui Paula de Matos, lembrando que “governar passa cada vez mais por comunicar”.

A iniciativa é “positiva para a blogosfera nacional, uma vez que ajuda a derrubar barreiras que ainda vão existindo em algumas mentes do nosso país que continuam a ver nos blogues uma espécie de jornais de parede da actualidade, onde cada um vai escrever o que lhe apetece e dizer mal sem dar a cara. Mas também será positiva para o esclarecimento dos eleitores no que respeita às matérias em apreciação”, aponta João Fialho, do blogue “Atribulações Locais“.

“Quer-me parecer que estamos apenas no princípio de uma tendência”, nota. “Se a moda pega, não haverá responsáveis políticos, aos mais diversos níveis, que queiram ficar de fora. Isso, sim, seria muito interessante. Uma verdadeira ‘bloguítica’ nacional, quem sabe, a próxima tendência da nossa blogosfera”.

Blogue sem comentários

A impossibilidade de comentar os “posts” no “A Nossa Opinião” pode explicar-se com “uma postura defensiva, que é perfeitamente justificável”, aponta João Fialho. No entanto, “seria de todo preferível que o blogue do MAI permitisse comentários de leitores identificados. Isso, sim, constituiria o exercício de um verdadeiro contraditório”.

Gabriel Silva, do “Blasfémias“, não vê problemas na inexistência de comentários, mas compara o blogue ao “site” da Câmara do Porto, utilizado pelo presidente Rui Rio para responder a notícias publicadas em jornais, apesar das diferenças de “estilo” e “técnica”. “É mais um espaço mediático. É o mesmo esquema de Rui Rio”, diz Gabriel Silva, que espera ver, por exemplo, mais respostas a e-mails dos cidadãos do que a colunistas.

“Ao contrário de várias pessoas, não vejo qualquer problema na criação de um blogue por parte de um ministro, bem pelo contrário. Julgo ser uma oportunidade única para uma maior aproximação entre os governantes e os seus cidadãos”, refere Bruno Gonçalves, que mantém o “O Inominável“.

“Dado o cada vez maior número de pessoas que acedem a estes espaços, é natural que diversas organizações tentem aproveitar ao máximo o enorme potencial destes meios de comunicação”, acrescenta.