Com a saída de José Sócrates da liderança do Governo, perspectivam-se eleições no final de Maio. O voto da Oposição contra o quarto Plano de Estabilidade de Crescimento (PEC IV) tirou o “tapete” ao secretário-geral do PS, que se demitiu da suas funções em Belém, perante Cavaco Silva.

O ministro da Economia, Vieira da Silva, chegou a fazer crítica directa ao PSD, quando disse que os sociais-democratas já “encomendaram as faixas de campeão”, depois de terem passado uma “rasteira” ao Governo ainda em actividade.

Mas a ausência do voto de confiança do PSD e dos outros partidos em mais um plano de austeridade do PS, e o consequente enfraquecimento da bancada socialista, leva a que a Oposição se perfile mesmo como provável substituta na liderança do país. Isso tanto poderá ser decidido em novas eleições, pelos portugueses, ou, para já, através de uma negociação entre os vários partidos que seja aceite pelo Presidente da República.

A união entre esquerda, centro e direita antecipa a possibilidade de se criarem coligações entre partidos, para que até às eleições Portugal tenha um Governo mais estável e não apenas um Governo PS, frágil e limitado em poder. Na verdade, se Cavaco Silva era acusado por várias vozes de pouco se pronunciar quanto aos destinos do país, agora cabe ao Presidente da República tomar decisões, como gerir as ideias dos partidos que têm assento na Assembleia, e daí concluir algum Governo transitório. A formação de uma coligação é muito provável, sendo que aquela entre PSD e CDS é a que mais consenso reúne, tendo em conta que a convivência dos dois partidos com o PS não é a mais pacífica.

O próprio líder do PSD, Passos Coelho, disse, depois de saber da demissão de José Sócrates, que se chegou “a um período em que os mercados não têm confiança em Portugal, porque o Governo não cria confiança”. Paulo Portas, do CDS, afirmou que Sócrates era um primeiro-ministro “que não estava a prestar um bom serviço ao país.” Contudo, a facção de esquerda, que também “ajudou” no “derrube” do Governo, não está no mesmo espírito de centro e direita. Jerónimo de Sousa (PCP), ao saber da saída de José Sócrates, explicou que “é preciso mudar de política” e não só de Governo. Francisco Louçã alinhou na mesma ideia, ao afirmar que o Bloco de Esquerda quer vencer o PSD, e “aqueles que só olham para o país como se ele fosse propriedade de PS e PSD”.

O poder dos jovens

Depois do incidente registado num jantar do PS em Viseu, que envolveu jovens da “Geração à Rasca”, José Sócrates e o seu partido podem ter virado contra si grande quantidade da população mais jovem. Se o secretário-geral do partido socialista decidir recandidatar-se ao Governo, pode encontrar nos jovens uma grande oposição.

Carina Castro, da Juventude Comunista Portuguesa (JCP), disse ao JPN que já tem conhecimento de jovens integrados em acções que os envolvem mais nas decisões políticas. A opinião de voto vai continuar a formar-se com a ajuda das redes sociais, que funcionam como “um instrumento complementar na difusão de ideias”. José Soeiro, deputado do Bloco de Esquerda, também em declarações ao JPN, fala da necessidade de os jovens se indignarem contra a precariedade que os tem perseguido.

O JPN tentou falar com outras pessoas e forças partidárias que pudessem dar a sua opinião sobre o tema, mas sem sucesso.