Aos 10 anos, recebeu a primeira caixa de magia. Aos 16, já fazia espetáculos remunerados. Com 18 criou a própria empresa de produção de eventos. Agora, com 25, Hugo Silva é um profissional da magia – um dos poucos em Portugal – já com participação em programas televisivos e em eventos privados de empresas, nacionais e internacionais.

Os primeiros passos

Desde muito cedo que Hugo Silva sentiu uma ligação à magia. Natural de Lousada, o ilusionista relembra a sua primeira caixa de magia, oferecida pelo pai, embora confesse que inicialmente não lhe despertava qualquer tipo de interesse: “Não conseguia fazer nenhum dos truques. Só mais tarde, e com a ajuda de um amigo, é que aprendi a executá-los”, conta ao JPN.

O seu primeiro público foi a família e os colegas da escola. “Recordo-me de passar horas a ensaiar o mesmo truque, que repetia vezes sem conta nos intervalos. Aqui no Norte ainda não existiam escolas de magia, por isso, comecei a aprender através de vídeos na internet, em que utilizava materiais simples do dia a dia como lenços, cartas, moedas ou notas.”

Só mais tarde surgiu a sua primeira atuação remunerada no Hotel Santana em Vila do Conde e daí a necessidade de evoluir. Comprou truques no estrangeiro, aprendeu com ilusionistas experientes, fez parcerias em espetáculos e definiu o seu próprio nome artístico: “Mágico Sopas”, a sua alcunha desde a infância.

Porém, assume que este não foi um trajeto fácil e que a sorte esteve sempre do seu lado. “Em Portugal, contam-se pelos dedos os profissionais que vivem apenas da magia. Ser um deles, é um grande privilégio para mim!”

O desafio da proximidade

Há três tipos de espetáculos de ilusionismo: o close-up, também conhecido como magia de proximidade, o ilusionismo de palco e o de rua.

Para Sopas, o close-up é o mais desafiante, na medida em que o espectador se encontra apenas a centímetros de distância, percebendo facilmente qualquer falha. Mas é ao mesmo tempo o mais gratificante, uma vez que que se obtêm reações espontâneas e imediatas.

“Já no palco, embora o meu objetivo seja levar a ilusão até à última pessoa da plateia, apenas consigo ter a perceção das quatro filas da frente. Há uma relação mais distante com o público”, reflete.

Um dos primeiros espetáculos da sua carreira profissional. Foto: Miguel Sousa

O ilusionista explica que os truques com mais impacto são aqueles que envolvem o aparecimento ou desaparecimento de animais, bem como os interativos, onde os espectadores são parte integrante da ilusão. Não se esquece ainda de fazer referência aos clássicos, com cartas e lenços, que também despertam a curiosidade do público durante o espetáculo.

Público infantil é o mais exigente

Os elementos de magia close-up. Foto: Inês Nunes

“Nos tempos que correm é difícil inovar, tudo já foi inventado no ilusionismo. O segredo é reinventar os truques que já existem e adaptá-los para os diferentes públicos”, observa o artista.

Há quase uma década que atua para auditórios distintos, mas assume que as mais exigentes continuam a ser as crianças. Explica que, para elas, levitar uma pessoa é natural, à semelhança do que acontece nos desenhos animados. “Não têm ainda a noção do impossível, o que acresce dificuldade à nossa tarefa”, remata o mágico.

Viver da magia não é fácil, mas Hugo Silva está consciente disso. Confessa que o mais complicado é ganhar visibilidade, numa sociedade que ainda está a adaptar-se à magia como uma forma de arte.

“Infelizmente, a maioria das vezes é necessário sair do país e brilhar lá fora, para depois ter reconhecimento aqui”, desabafa. Esta é uma tendência que espera ver invertida a curto prazo, com o auxílio de iniciativas, programas de televisão e profissionais da área, sobretudo nos canais generalistas, que exponham a magia aos portugueses, como o Mário Daniel ou o Luís de Matos.

“Treinamos técnicas dificílimas, que não são expostas ao público. Talvez seja essa a principal causa da desvalorização”, defende. São necessários meses e por vezes até anos de treino por parte destes profissionais, para executar algumas ilusões.

“Cartolas são coisas do passado”

Hugo Silva participa em programas televisivos e em eventos privados de empresas a nível mundial. Foto: Inês Nunes

Um mágico consegue fazer o público “sonhar enquanto está acordado”, levando-o a um mundo imaginário onde a ficção se transforma em realidade. “Não existe melhor sensação do que estar num palco e conseguir com que o público se abstraia do seu dia a dia, desfrutando daquilo que demorei semanas, meses e talvez anos a ensaiar, até ao tão merecido aplauso”, conta ao JPN. Para Sopas, o mais importante é a emoção causada nas pessoas.

“A magia é, provavelmente, a profissão mais honesta que existe. Um mágico avisa que vai criar uma ilusão e fá-lo logo a seguir. O problema são todas as outras profissões em que não reconhecem que estão a mentir ou a dizer inverdades”, observa.

O ilusionismo vive dos segredos e da sensação de que algo inexplicável aconteceu. É preciso inovar constantemente e adaptar-se aos diferentes públicos. “As cartolas com coelhos são coisas do passado”, admite o artista.

Em Portugal não é fácil singrar na profissão. “É fundamental ser versátil e estudar. Para isso contamos com instituições fantásticas, como a Escola de Magia do Porto”, concluiu.

Artigo editado por Filipa Silva