Os estudos e o relacionamento com a família e amigos saem prejudicados.
Vanessa Fernandes é a actual campeã europeia de triatlo e quinta no campeonato do mundo. Uma prestação desportiva de ouro, se se pensar que só há três anos foi para o centro de alto rendimento. “A treinar a sério triatlo, comecei há três anos”, confessa. Três anos foram o suficiente para que abandonasse a escola. A Vanessa tem 18 anos e é uma das fortes promessas portuguesas para Atenas 2004. Ela é “das atletas mais novas que vai aos Jogos Olímpicos”, disse o treinador ao JornalismoPortoNet.

A Vanessa dedica muito tempo aos treinos diários, tanto que teve que abandonar os estudos porque, diz, “era muito difícil ter nível numa coisa e na outra”. A atleta frequentava o 10º ano quando deixou a escola. A preparação desportiva absorve a maior parte do seu tempo e Vanessa Fernandes teve de escolher. “Optei pelo Desporto”, disse a campeã europeia de triatlo ao JPN.

A este nível, os atletas fazem, no mínimo, um esforço sério para conciliar os estudos e o desporto. Se alguns abandonam de todo a escola, outros há que vivem entre uma coisa e outra, sem tempo para mais nada. Emanuel Silva, o único atleta português de canoagem que vai estar em Atenas, conta que “os treinos são sempre com grande sacrifício que se fazem”. O atleta de 18 anos, campeão do mundo em 2003, realça a importância do apoio de familiares e amigos para que tudo saia a ganhar, e não só o desporto: “Toda a minha família me apoia e estou a conciliar da melhor forma os estudos. Não perdi nenhum ano; estudo no 11º ano em cientifico – natural”.

Filipe Bezugo é o ginasta português que vai a Atenas. Enquanto esteve no Funchal, não se atrasou nos estudos. Quando foi estudar engenharia para o Porto, a história foi diferente. Ainda na Madeira, Filipe esteve muito próximo de conseguir os mínimos para os Jogos Olímpicos de Sidney. Percebeu que, se treinasse mais, podia conseguir o apuramento para Atenas. Foi o que aconteceu, mas os Jogos custaram-lhe três anos perdidos na faculdade. “É bastante complicado. Treinar 5 horas e meia por dia e estar a estudar não é nada fácil. Por isso é que estou cá há quase 5 anos e só estou no segundo do curso”. Este ano, o Filipe optou por não estudar para ter uma boa preparação para Atenas.

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O ginasta representa o Nacional da Madeira, mas treina com o Boavista. Os treinos foram durante muito tempo nas instalações junto ao Estádio do Bessa e as deslocações também lhe roubavam tempo. Com a renovação do estádio, o pavilhão de ginástica foi abaixo e os treinos passaram para a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física (FCDEF), mesmo ao lado da Faculdade de Engenharia (FEUP) onde o Filipe estuda. Mas a escolha está feita: este ano, os estudos foram congelados.

Nem pau nem bola

A mesma escolha fez Manuel Campos, ou Joca, como é conhecido pelos amigos. A sorte é que não foi a mesma. O Joca tem a mesma idade que o Filipe (23 anos) e estava inscrito no projecto Atenas 2004 na mesma modalidade: ginástica artística masculina. O Joca optou por fazer o ano na faculdade a meio gás e para se preparar para o Campeonato do Mundo, em que esperava obter os mínimos para Atenas. Uma ruptura no ligamento cruzado anterior deitou por terra o esforço e o sonho. Isto foi há um ano quando o apuramento para Atenas estava perto. “Até à altura tinha feito três ou quatro provas em que tinha somado 55 pontos. Esses pontos davam para eu estar complemente à vontade. Davam para eu me apurar”, recorda o ginasta.

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Nesse ano, só fez duas disciplinas na FCDEF. “Estava a lutar para os Jogos Olímpicos e perdi um ano por nada”, diz. Depois da ligamento-plastia ao joelho, o Joca não conseguiu mostrar resultados para se manter no projecto olímpico, que avalia os atletas de seis em seis meses. Depois da lesão, o atleta até participou no Campeonato da Europa, mas só fez pontos para a equipa. “Só fiz quatro aparelhos, porque não quis arriscar fazer solo e salto. Prefiro recuperar bem do joelho e forçar mais tarde do que vir a ter mais problemas. O joelho está estável, mas no salto tenho uma dor à frente, no tendão rotuliano”, explicou o atleta ao JPN.

O tempo com a família e os amigos é escasso

Luís Monteiro, um dos nadadores portugueses que vai aos Jogos na Grécia, não tem problemas de maior nos estudos. Nunca reprovou e o único contratempo que teve foi ter que mudar de curso: “Não me adaptei à Faculdade de Economia (FEP), porque não tinha lá horário compatível. Decidi então pela minha segunda opção, que era Desporto”.

Este ano, deixou os exames para a época de Setembro. Com o apoio que recebeu na FCDEF, pôde concentrar-se na natação sem sair prejudicado. Luís admite que “estar algumas vezes fora e faltar às aulas prejudica sempre um bocadinho”, mas o segredo para ultrapassar o problema está em ter “bons colegas e professores cooperantes”.

Como o atleta tem que estar muitas vezes ausente, em estágio ou em competições, a vida pessoal é, sem querer, negligenciada. “O sair com os amigos e o estar com a família sai um pouco prejudicado. Tenho que estar muitas vezes ausente. E quando estou cá tento descansar o máximo possível”, lamenta. Luís treina em média nove vezes por semana, mas tenta “encontrar um bom ponto de equilíbrio”.

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Diana Gomes, a jovem nadadora com passaporte para Atenas desde os últimos Campeonatos Nacionais, treina quatro horas e meia por dia e diz que a natação já “tira bastante tempo para estar com os amigos e família”. Diana estuda no 9º ano e divide o tempo entre a escola e a piscina. Diz que a família e os amigos “às vezes sentem isso”. “Saio das aulas e vou logo para o treino; é assim tudo muito seguido”, explica a atleta de 14 anos.

Ana Isabel Pereira