Metodologia utilizada
Para construir as nuvens de palavras, o JPN utilizou a ferramenta Wordle, que cria nuvens de palavras analisando a frequência com que são repetidas em dado texto. Das 75 palavras mais proferidas de cada discurso retiraram-se, para efeitos de clareza, vocábulos sem significado fora do contexto original, como “ainda”, “porque” e “coisas”.
Fontes: Discursos de Paulo Portas, Jerónimo de Sousa na Festa do Avante, José Sócrates e Manuela Ferreira Leite
Não foi analisado o discurso de Francisco Louçã, do Bloco de Esquerda, por não estar disponível na íntegra.
O começo do “ano político” é normalmente marcado pela denominada rentrée, uma série de eventos onde os líderes dos principais partidos retomam o ponto em que tinham ficado antes das férias e acrescentam novos temas que se desenvolveram durante o Verão.
Coube a Paulo Portas, no passado sábado, em Aveiro, fechar esta época. O JPN analisou os discursos dos vários líderes partidários (excepto o de Francisco Louçã – ver caixa) através de uma ferramenta informática que gera “nuvens de palavras”. Quanto mais vezes é repetida uma palavra, mais ela se destaca entre as restantes. A “nuvem” das quatro comunicações aos militantes (ver fotografia principal) não permite tirar grandes conclusões, mas as “nuvens” individuais revelam a coabitação de velhas tendências com novos temas.
PP valoriza segurança…
O discurso de Paulo Portas deu primazia a temas tradicionalmente associados ao CDS-PP, como a economia, a segurança (a quarta palavra mais proferida), a saúde das pequenas e médias empresas e o “fanatismo fiscal”. É ele mesmo que diz, logo nos primeiros minutos da sua declaração, que o que “verdadeiramente preocupa as pessoas” neste momento é a economia e segurança.
Como indica a “nuvem de palavras” composta a partir do discurso de Portas aos militantes, a palavra “primeiro-ministro” é predominante (só ultrapassada por “país”). Sobre cada tema é ao primeiro-ministro que exige “responsabilidades políticas”. Todo o discurso é dirigido a José Sócrates, a quem Portas propõe um debate televisivo sobre segurança e criminalidade.
… tal como PSD, que quer outra política
Menos do que Paulo Portas, mas ainda assim com forte presença no discurso de rentrée de Manuela Ferreira Leite está o tema da segurança, área em que o “Governo falhou perigosamente”.
O muito aguardado discurso da líder do PSD na Universidade de Verão assumia particular importância, visto ser esperado que a líder revelasse a estratégia do partido, após um prologado período de silêncio. Tal como Portas, Ferreira Leite quis falar de “questões que verdadeiramente preocupam os portugueses”. Mas, se para o líder do PP, elas são, sobretudo, economia e segurança, o discurso da social-democrata revelou-se mais diversificado.
Com 25 ocorrências, a palavra “política” é a mais utilizada por Ferreira Leite, que procura, ponto a ponto, mostrar em que é a “concepção de acção política” do PSD “é completamente diferente” da seguida pelo PS. Segue-se a palavra “Governo”, o grande alvo da presidente do PSD, que acusa a “máquina socialista” de controlar e perseguir as vozes críticas.
PS voltado para dentro
O PS, por seu lado, abriu uma nova fundação – a Res Publica – e foi nesse evento que o primeiro-ministro, José Sócrates, fez a primeira grande intervenção após o período de férias. Na qualidade de secretário-geral do PS, Sócrates discursou virado para o interior do partido, como comprova a “nuvem de palavras”.
As palavras em destaque não são de política nacional, mas sim ligadas às questões internas do PS. Termos como “partido”, “pensamento”, “ideias”, “reflexão” marcaram o tom do discurso.
PCP igual a si mesmo
Na Festa do Avante, o líder comunista, Jerónimo de Sousa, abordou vários temas ligados ao partido e ao país, focando-se nas desigualdades sociais, na situação da economia e na segurança. Nem seria preciso olhar para a “nuvem de palavras” para verificar quais as palavras mais ditas: “trabalhadores”, “luta”, “povo”, por entre referências ao Governo, ao país e à “crise”.
Dos quatro discursos analisados, o de Jerónimo é, de longe, o maior. Por isso, apesar das muitas críticas feitas ao Governo, as palavras-chave continuam a ser as mais familiares do PCP.