A maioria dos profissionais de saúde em Portugal não notificam as reacções adversas aos medicamentos. “Indiferença” e “pouca certeza” da relação causa-efeito entre medicamento e reacção são os principais motivos para não notificar, conclui um estudo da Unidade de Farmacologia do Norte sediada na Faculdade de Medicina do Porto, em colaboração com a Faculdade de Medicina de Santiago de Compostela.

Em Portugal, a taxa de notificação das reacções adversas aos medicamentos (RAM) é metade da que se verifica noutros países. Apenas 65 em cada 100 mil casos de reacções adversas são notificados pelos médicos às autoridades competentes. A falta de notificação constitui um dos problemas mais graves de saúde pública.

Os médicos e farmacêuticos, diz o estudo, não notificam as RAM e isso acontece por duas razões: a primeira prende-se com a “indiferença”, ou seja, os profissionais de saúde agem com a presunção de que a notificação das reacções “não contribui para o conhecimento médico”. A segunda razão apontada pelo estudo é a “falta de confiança”, que faz com que médicos e farmacêuticos não notifiquem uma determinada reacção por não terem certezas de que exista uma relação causa-efeito.

Mas esta situação pode ser invertida através de acções de formação que alertem os profissionais de saúde para a necessidade de participarem activamente na monitorização das reacções adversas aos medicamentos. No caso dos médicos, o estudo demonstrou que a intervenção educativa aumentou a notificação espontânea em 9,7 vezes. Já no caso dos farmacêuticos verifica-se um aumento de 5,9 vezes.

“As estratégias educativas podem contribuir para melhorar de forma revelante a vigilância das RAM”, concluem os responsáveis pelo estudo, citados em comunicado de imprensa.

Inês Castanheira
Foto: SXC