Mapa apresentado na reunião pública do executivo portuense aponta a VCI como uma das principais áreas de sobre-exposição ao ruído. Segundo o vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo, a autarquia está a desenhar um plano com medidas concretas de redução do ruído na cidade para apresentar em 2023.

VCI está cortada por tempo indeterminado.

A VCI é um dos locais no Porto onde o problema da sobre-exposição ao ruído é mais grave. Foto: Manuel de Sousa/Wikimedia Commons

Desde 2018, há menos pessoas a sofrer com o problema do ruído no Porto. Ao contrário do que acontece noutras cidades, não há no centro da cidade situações graves de sobre-exposição ao ruído. Estes focos, no caso do município do Porto, localizam-se junto à Via de Cintura Interna (VCI), nas ligações da A3, Via Norte e AEP e têm como causa o trânsito rodoviário.

Foram estas as principais conclusões da apresentação do professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Rui Calejo Rodrigues, sobre a situação atual do ruído no Porto, feita na reunião pública do executivo da Câmara Municipal do Porto (CMP) desta segunda-feira (12).

A apresentação complementou a proposta técnica de revisão dos Mapas Estratégicos de Ruído do Município do Porto. O documento vai ser encaminhado para as Infraestruturas de Portugal (IP). Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara do Porto e vereador com o pelouro do Ambiente sublinhou o facto de as zonas com maior sobre-exposição ao ruído se situarem nas imediações de estradas geridas pela IP.

“A Infraestruturas de Portugal tem de começar a olhar para este território como um território que atravessa uma cidade densamente habitada e não como uma autoestrada“, rematou, antes de acrescentar que “a VCI é um grande cancro na cidade do Porto.” O vice-presidente acrescentou ainda que a autarquia está a trabalhar num plano com medidas concretas para combater o problema do ruído, que deverá estar pronto em 2023.

Rui Moreira recordou ainda que a CMP reuniu com a Associação Nacional de Transportes Públicos Rodóviarios de Mercadorias (ANTRAM), ainda antes da pandemia, para lhes propor deixarem de usar a VCI como via de atravessamento.

A ANTRAM terá assentido, mas para que tal venha a acontecer exige que não haja lugar ao pagamento de portagens na CREP (Circular Regional Exterior do Porto, também conhecida como A41). A medida não se efetivou, por falta de resposta do Governo: “Nós comunicamos isso ao Governo. Até hoje, estamos à espera de saber quando é que o Governo aplica esta regra. Que era uma medida tão simples, tão eficaz, que, ainda por cima, não causava nenhum constrangimento aos operadores”, afirmou Rui Moreira.

É preciso diminuir o número de carros na cidade

Jorge Garcia, pelo PS, sublinhou a presença dos automóveis na cidade como uma das principais causas de ruído. O vereador deu o exemplo de Milão, onde se restringiu o trânsito a veículos elétricos e se diminuíram os níveis de ruído na cidade.

Em resposta, o presidente da CMP alertou para o facto de os carros elétricos não serem “acessíveis a todas as bolsas” e para a possibilidade de uma medida dessas, em Portugal, poder levar a “uma maior segmentação social”.

Rui Calejo explicou que os benefícios dos automóveis elétricos em termos de ruído só se verificam em velocidades baixas. “Os veículos elétricos, nas velocidades a que eles circulam normalmente, não fazem muito menos barulho”, apontou.

Vladimiro Feliz, do PSD, referiu que a implementação de mudanças na mobilidade não é possível no curto prazo. “São fenómenos progressivos e que nascem de uma alteração cultural. Não se acaba com o carro por decreto”, afirmou. Já Ilda Figueiredo considerou a aposta nos transportes públicos como “fundamental” e frisou que existem, no centro da cidade, queixas sobre o ruído por parte de quem lá vive.

Sobre o que já foi feito para tirar os carros do centro da cidade, Filipe Araújo indicou a criação da nova linha de metro e a abertura do Terminal Intermodal de Campanhã que “tirou cerca de mil autocarros” do centro.

A proposta técnica de revisão dos Mapas Estratégicos de Ruído do Município do Porto foi aprovada por unanimidade.