Foi apenas uma semana, mas o suficiente para impressionar todos os que por lá passaram.
Foram 96 telas presentes na exposição/venda, avaliadas em dois milhões de euros. Esta colecção chegou a Portugal através de uma iniciativa do Palácio do Correio Velho. De acordo com o grupo leiloeiro organizador da exposição, esta vasta obra encontrava-se “na casa onde Souza Pinto viveu, na posse de um sobrinho que durante estes anos guardou este espólio”.

As suas obras acabam por fazer uma partilha com a terra, os homens, os olhares… o mundo natural e real que se tornou a alma da sua pintura. Artista de um lado rústico e sentimental, os quadros de Souza Pinto fazem-nos sentir as cores, os cheiros e as sensações, captadas pelo pintor mais de cem anos antes.

O “Chegado tarde” ou “O Amuado” é a obra mais cara da exposição. Este óleo sobre tela está avaliado em 150 mil euros. Um rapazinho que supostamente se atrasou espera que lhe abram a porta, enquanto duas raparigas, possivelmente irmãs, se riem dele à janela. O olhar da criança espreita-nos com a nostalgia de uma época de ouro.
Nas costas da moldura encontramos duas inscrições. Numa delas, de Agostinho Nunes, que entretanto adquiriu a obra, pode ler-se: “um dos melhores quadros deste artista.”
É de longe a tela mais cara presente a leilão. As outras oscilam em valores entre os 20 e 50 mil euros. Os desenhos podem ser adquiridos por valores entre os 1.000 e os 5.000 euros.

O Naturalismo português

Souza Pinto foi um dos mais importantes paisagistas da primeira geração de naturalistas portugueses. Fez formação na Academia Portuense de Belas Artes, onde aprendeu com Soares dos Reis, entre outros professores de relevo. Aluno brilhante, dono de um talento invulgar, sempre apresentou uma orientação artística bastante específica. As óptimas notas que tinha permitiram-lhe ganhar uma bolsa de estudo e ir estudar para Paris. Estávamos em 1880. De França não mais regressou, a não ser em visitas esporádicas.
Nascido nos Açores, passou quase toda a sua vida na Bretanha, região de que tanto gostava, como a sua obra testemunha.
Souza Pinto destacou-se, sobretudo, na pintura paisagística, e pelo realismo que empregava nas suas obras. Esta exposição é a prova disso. O mar, o campo, as ruas, o rosto humano… A predominância dos signos rurais é evidente. Quase todas as representações da figura humana nascem do escuro, cor do bréu, e mostram rostos adivinhadores de tragédias, cheios de memórias profundas.

De acordo com informações obtidas pelo JornalismoPortoNet junto do grupo leiloeiro que organizou a exposição, não sobraram muitos quadros, o que só atesta a elevada receptividade que a exposição teve.
Esta foi uma oportunidade única para conhecer o autor. Em Portugal apenas existem quadros seus em museus como o de Grão Vasco (Viseu) Casa-Museu Teixeira Lopes (Porto), Museu de Arte Contemporânea de Serralves (Porto), Museu do Chiado (Lisboa) e em grande número no Museu Nacional Soares dos Reis (Porto).

André Morais