No ano lectivo corrente, registou-se um aumento de 50% no número de chamadas para a Linha SOS da Universidade do Porto, sob orientação do Gabinete de Integração Escolar e de Apoio Social (GIEAS). Sem referir números, o chefe de divisão do GIEAS, Sotero Martins, revela ao JornalismoPortoNet que os principais problemas que levam ao contacto telefónico são a solidão, o isolamento e dificuldades nas relações inter-pessoais.

A prevenção do suicídio é também um dos objectivos da linha, já que este é o limite a que chegam alguns alunos com necessidade de ajuda psicológica. “A pessoa diz que se vai suicidar, mas, se liga, já está a pedir ajuda. Houve um caso concreto em que a técnica saiu daqui às quatro horas da manhã, porque não deixou a pessoa que nos contactou. Acima de tudo, o técnico tem que ‘prender o aluno’, que geralmente se sente só, sem o carinho de alguém, e dizer-lhe ‘eu gosto de si’”, explica o responsável do GIEAS.

Sotero Martins afirma que “são relativos” os números de chamadas recebidas. Explica que, na sua opinião, “se chegasse ao final do ano lectivo e tivesse ajudado apenas um aluno, já tinha valido a pena”. Acrescenta ainda que o gabinete “é como um serviço de bombeiros”. “O importante é estarmos cá para o que for necessário”, frisa.

Palavra e boa vontade

A Linha SOS é assegurada por profissionais com formação técnico-científica adequada: psicólogos vocacionados para a terapia por telefone. O 800 22 00 77 é gratuito e funciona entre as 20 horas e a uma hora da madrugada, a altura em que “há a noção de que as pessoas estão mais relaxadas e com mais tempo, porque ir à consulta em horário de expediente obriga a faltar às aulas e, à noite, quem liga está mais relaxado”.

O maior número de pedidos e chamadas telefónicas regista-se à quarta-feira e ao domingo: “ao domingo porque os alunos deslocados estão mais sós; à quarta porque, depois do fim-de-semana junto da família e de terem recarregado as baterias, sentem a solidão a meio da semana e necessitam de ajuda de alguém para lhes dar força”, explica Sotero Martins.

Para os técnicos do GIEAS, a melhor recompensa pelo trabalho feito é a lembrança dos estudantes ajudados: “têm-se mantido relações muito interessantes com os alunos e eles acabam por perceber que, num momento de crise, quando alguém nos dá a sua palavra amiga, por muito pouco que seja, dá-nos a sua boa vontade”.

Manuel Jorge Bento