As fotos da polémica em Abu Ghraib foram publicadas em jornais, mas que efeito teriam se tivessem sido publicadas primeiro em weblogs? O grau de credibilidade seria o mesmo? “Jornalismo é uma coisa. Weblogs é outra completamente diferente”, explica Luís Santos, jornalista e professor na Universidade do Minho. Mas “há claramente pontos de contacto entre as duas situações”. Citando uma bloguer norte-americana, Luís Santos refere que “os blogs são sítios onde, ocasionalmente, se cometem actos de jornalismo”. Mas, os weblogs são, sobretudo, um dos maiores espaços na internet para a publicação pessoal.

No entanto, “os leitores de internet conseguem, ainda assim, distinguir” as duas coisas. Apesar disso, Luís Santos concorda que os “pontos de contacto” entre aquilo que é jornalismo e o que é publicação pessoal podem “diluir as fronteiras” entre estas duas actividades aos olhos dos utilizadores de internet. Mas, “aquilo que nós temos à noite nos telejornais das nossas televisões também já é uma diluição de fronteiras entre o jornalismo e o entertainement”.

“Um sinal de alerta para o jornalismo”

Para Luís Santos, a grande questão que se coloca em relação ao jornalismo é o facto de a publicação pessoal constituir “uma espécie de sinal de alerta para o jornalismo”. Para fazer face ao crescimento exponencial dos espaços de publicação pessoal, Luís Santos acredita que “o jornalismo vai ter que ser muito melhor do que é”.

“Credibilidade” e “rigor” são palavras-chave

“O jornalismo vai ter que ser muito mais rigoroso e muito mais fiável” para conseguir manter a fidelidade dos leitores. Para Luís Santos, o grande desafio é conseguir fazer com que os leitores continuem a procurar os jornais para “confirmar a informação ou para ir buscar informação de base”, ainda que sejam utilizadores assíduos dos weblogs.

O desafio das evoluções

Luís Santos acredita que o jornalismo dispõe de mais-valias para fazer frente a este “boom” das publicações pessoais. “O jornalismo já enfrentou muitos meios novos, bem como o aparecimento de muitas revoluções nas linguagens, e conseguiu sobreviver. E sobreviveu adaptando-se”. Na opinião do jornalista, “a adaptação passa por um esforço muito grande de maior responsabilização, de maior rigor no trabalho e de um maior contacto com os leitores”. Luís Santos fez questão de salientar a importância deste último aspecto: “nota-se no jornalismo tradicional que os pontos de contacto entre os leitores, ouvintes ou telespectadores e os órgãos de comunicação tradicionais são muito restritos”. Há as cartas ao director, que “vêm lá num cantinho” do jornal. Os weblogs aumentam muito essa possiblidade de contacto entre os leitores e aqueles que escrevem nos blogs, mais conhecidos por bloguers. “Todos os leitores do meu weblog podem comentar uma notícia em particular, a forma como eu a fiz, ou perguntar-me mais coisas”, explica Luís Santos. “Acho que o jornalismo só tinha a ganhar se incorporasse bocadinhos do sucesso dos weblogs”.

Não há motivos para alarme

As evoluções tecnológicas provocaram sempre alguma confusão entre os jornalistas, suscitando alarmismo nos espíritos mais pessimistas. Mas Luís Santos não vê motivos para tanto. “Há razão para se pensar que não vamos poder continuar a fazer jornalismo em cima do joelho”. Na opinião deste jornalista, tudo poderá passar por algumas mudanças na forma de encarar a profissão: provavelmente, refere Luís Santos, o que se espera de um jornalista no futuro é que este tenha capacidade para fazer o seu trabalho e também para responder aos leitores., “Não acho que isso seja mau”, remata Luís Santos.

Ana Correia Costa