Depois dos atentados de sábado em Khobar, na Arábia Saudita, vários analistas têm referido que a subida dos preços do barril de crude é fruto da reacção dos mercados à investida da organização terrorista de Bin Laden. Os atentados fizeram 22 mortos, e os alvos foram sobretudo instalações de empresas de petróleo e residências onde habitavam trabalhadores dessas petrolíferas.

A Arábia Saudita é, neste momento, o maior produtor de petróleo do mundo. Ao lançar o caos e a instabilidade – o que tem sido conseguido com os atentados dos últimos dias -, aumenta-se a possibilidade de um corte no aprovisionamento de crude. Uma diminuição da exportação de petróleo faz disparar automaticamente os preços, podendo desencadear uma crise económica a nível internacional.

No entanto, se muitos acreditam ser esta a intenção da Al-Qaeda, Milan Rados, especialista em Relações Internacionais e professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), propõe uma outra teoria. Na perspectiva deste especialista, a estratégia da Al-Qaeda para perturbar a economia internacional não deverá ser a única explicação para esta nova escalada dos preços do petróleo. Milan Rados diz que “é preciso suspeitar”, e que na origem desta subida de preços podem estar “interesses económicos”.

“A Al-Qaeda serve para tudo”

Milan Rados desconfia de que, por detrás desta nova ‘crise’ petrolífera, não esteja apenas a Al-Qaeda. “Acho um pouco simples de mais para explicar as Relações Internacionais, que são uma coisa muito complexa”, afirma. No entanto, Milan Rados não deixa de frisar que estas hipóteses funcionam apenas no campo das especulações. “Há que suspeitar”, reitera o professor, mas não é possível dizer “se isto é verdade ou se há qualquer outra verdade”.

“Aquilo que estamos a ouvir é que a Al-Qaeda está a fazer isso [desencadear atentados no seio de grandes potências petrolíferas] com o propósito de criar dificuldades ao mundo ocidental”. Mas Milan Rados avança com outra teoria, e coloca a hipótese de que por detrás desta nova escalada nos preços do crude possa estar algum “truque das grandes empresas produtoras e distribuidoras de petróleo”. Na perspectiva de Milan Rados, o aumento de preços interessa sobretudo às “grandes empresas multinacionais que produzem e vendem petróleo”.

Milan Rados deixa ainda o alerta: “quem domina os órgãos de comunicação ao nível mundial são os Estados Unidos da América, e essa história de a Al-Qaeda provocar instabilidade no Ocidente está a a andar por aí”, e é “conveniente” para os norte-americanos. “Como os Estados Unidos da América e os seus amigos mentiram tantas vezes, há que suspeitar de tudo o que estão a falar”, refere o especialista. “Isto pode ser qualquer coisa muito mais feia do que a Al-Qaeda”, e “é de suspeitar quando os Estados Unidos falam da Al-Qaeda e ligam a organização a qualquer coisa que acontece”, sublinha Milan Rados.
“Isto não significa que não existe terrorismo internacional”, mas “é preciso suspeitar um pouco quando, para qualquer problema que há nos Estados Unidos da América, a Al-Qaeda serve para cobrir tudo”.

Ana Correia Costa