Novais Barbosa discorda da forma como estão a ser conduzidos alguns aspectos do compromisso de Bolonha, que visa uma maior articulação do ensino superior no espaço europeu. Em entrevista ao JornalismoPortoNet, o reitor da Universidade do Porto (UP) considera que a oportunidade da reforma não foi aproveitada.

“Relativamente a este processo, quando já se entrou francamente na sociedade de informação e do conhecimento que tem características completamente diferentes do que acontecia até há alguns anos, penso que se perde uma oportunidade de fazer uma verdadeira reforma do ensino superior em Portugal”, diz o reitor da UP, que afirma ser este “o sentir de todos os universitários ou da maioria dos professores universitários”.

A principal crítica de Novais Barbosa incide na nova definição dos graus académicos: “nem o primeiro grau se deveria chamar licenciatura porque, se tiver três anos ou mesmo que tenha quatro, corresponde a uma desvalorização do que hoje é reconhecido como licenciatura; nem o segundo grau deveria chamar-se mestrado. Em causa fica o trabalho das pessoas que já completaram este grau, com a sua tese e que a partir de agora pode ser completado em cinco anos e com o conteúdo a que correspondia a uma licenciatura até agora”.

O reitor defende assim um modelo de licenciatura com dois níveis: “três anos é um período bom para dar uma formação de base na Universidade, que depois poderia ser completado com uma, duas, três formações complementares de segundo ciclo, como eu continuo a chamar, já que não se devia chamar mestrado”. Novais Barbosa refere ainda: “embora perdida de alguma maneira a primeira batalha, começo a dizer que esta minha posição é para daqui a cinco anos. Acho que vamos ter efectivamente uma nova mudança no ensino superior”.

Medidas para investigação carecem de experiência

A abertura de novos centros de investigação deverá ser permitida apenas a partir de 2006, de acordo com dados apurados pelo JornalismoPortoNet. Novais Barbosa não se mostra preocupado com a medida: “não vejo que haja problema especial nisso e talvez para disciplinar o panorama geral não seja mau”. Este interregno poderá ser útil para fomentar a união entre diferentes áreas de investigação.

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Em relação às recentes propostas na área de investigação, pensa que “a iniciativa é interessante e merece ser acarinhada”. Mas aponta um problema: “talvez careça de um bocadinho mais de discussão e de uma entrada em vigor experimental para, depois, de um ou dois anos, se verificar como as coisas funcionam e ajustar novamente”. A proposta de apoio apenas a quem tenha mais de 100 artigos publicados em revistas científicas “é uma perfeita utopia”.

Reitor contra “modo fácil” de avaliação dos docentes

O novo estatuto de docente permite a ascensão de profissionais ao topo da carreira apenas pela experiência adquirida em empresas. Novais Barbosa faz um reparo a Ministra Graça de Carvalho: “gostava que o Ministério consultasse mais as universidades”.

Aponta ainda um receio: “o modo fácil com que nós procuramos avaliar certos tipos de situações que nos convenham”. No entanto, aceita que “uma pessoa que tenha condições muito especiais” possa ascender ao topo da carreira.

Discorda ainda da discussão com os sindicatos antes da audição dos pontos de vista das universidades: “os sindicatos preocupam-se essencialmente com a estabilidade das carreiras, com os modos de progressão e remuneração. Mas há muitos outros aspectos, que se prendem com os concursos e a conflitualidade que está a prejudicar extraordinariamente as universidades. Temos grupos e sectores que estão praticamente paralisados porque há questões que estão em tribunal”, explica.

Manuel Jorge Bento