Agora só em 2117.
Eram 12horas e 26 minutos quando o planeta Vénus tocou pela última vez o Sol. O fenómeno só se vai repetir daqui a 113 anos.
Foi às 6.20 da manhã de hoje (hora de Lisboa) que foi visível o primeiro contacto do planeta Vénus com o limbo solar. Vinte minutos depois todo o contorno circular deste planeta já se sobrepunha ao Sol.

Portugal de óculos escuros

A raridade do encontro entre Vénus e o Sol faz do acontecimento um fenómeno valioso que muitos não quiseram perder. A observação da travessia de Vénus sobre o Sol é objecto de grande curiosidade e não foram só os astrónomos que participaram na observação deste acontecimento secular. De norte a sul do país foram criadas estruturas que permitiram ao público a observação do trânsito de Vénus. O Visiunarium do Europarque de Santa Maria da Feira, o Centro Multimeios de Espinho, a Associação de Física da Universidade de Aveiro, o Observatório Astronómico de Lisboa, o Pavilhão do Conhecimento também na capital e o Centro Ciência Viva do Algarve foram alguns dos locais que possibilitaram aos portugueses a observação, através do telescópio, da passagem de Vénus.

Ecrã Total

A observação directa do Sol exigiu a utilização de óculos especiais com filtros de protecção ocular disponíveis nas farmácias ou fornecidos nos centros de observação espalhados pelo país. A exposição directa dos olhos à luz solar, ainda que por um curto período de tempo, pode provocar graves lesões da retina. Para este acontecimento em especial, foram lançadas várias linhas de emergência.
A opção mais segura foi, contudo, a observação indirecta do fenómeno através da Internet. O Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) transmitiu as imagens do fenómeno pela Internet enquanto investigadores do observatório respondiam igualmente pela Internet a questões colocadas por todos os interessados. Também o European Southern Observatory (ESO) através do seu site, transmitiu imagens do fenómeno captadas em várias cidades europeias e a partir do espaço através das imagens de satélite.

A informação cientifica do trânsito dos planetas

O trânsito de planetas sobre as estrelas teve um interesse histórico numa altura em que não existiam as técnicas avançadas de hoje para medir a distância da Terra ao Sol. Hoje, este fenómeno transformou-se numa técnica usada pelos cientistas na procura de novos planetas noutros sistemas solares. Segundo Filipe Pires, coordenador do Núcleo de Investigação do Centro de Astrofísica o trânsito de planetas é “um método para ver a atmosfera do planeta que depois de entrar sobre o sol vai sofrer alterações”. Poderá então detectar-se a presença de oxigénio na atmosfera, a existência de água e de metano, factores que poderão indiciar a existência de vida. Assim, o trânsito planetário pode ser uma técnica para descobrirmos se estamos ou não sozinhos no espaço.
Cientificamente, a técnica dos trânsitos sobre as estrelas consiste na medição continuada do brilho de uma estrela. Como explica Filipe Pires “quando existe uma diminuição do brilho de uma estrela inferior a 0,01% e quando estes valores se prolongam por algumas horas estamos perante um planeta”. O problema é esperar que isso aconteça o que implica uma observação e medição constantes dos brilhos das estrelas.
Em cada 243 anos ocorrem quatro trânsitos de Vénus sobre o Sol, já o planeta Mercúrio tem encontro marcado com o astro solar de sete em sete anos.

Ana Sereno