Nos dias que correm, é inegável que o comércio electrónico tem crescido de forma muito rápida. Poucas dúvidas restam também relativamente à tendência que esta nova forma de comércio terá para se afirmar cada vez mais face às “velhas” formas de comércio tradicional. E é com este cenário que surge quase como inevitável um futuro (que em parte já se faz sentir) feito de grandes shoppings virtuais e hipermercados que vendem literalmente de tudo, e em que este tudo se encontra à distância de um click do rato.

Mas será que num país “de brandos costumes” como Portugal, onde subsistem taxas de iliteracia e de analfabetismo consideráveis face ao resto da Europa e onde muita gente resiste ainda à utilização das novas tecnologias, podemos esperar os mesmos resultados? Será que os portugueses, que ainda esperam o D. Sebastião desaparecido, estão preparados para se converter à nova era da Economia Digital, bem longe dos mercados municipais e das lojas tradicionais, na qual já não se pode “lavar fiado”ou “marralhar” (discutir os preços…)?

Foram estas questões que motivaram o JPN a fazer uma viagem cibernáutica pelos meandros do comércio electrónico de forma a perceber melhor como é que, de facto, ele se encontra estabelecido no nosso país. E o objectivo surge em forma de desafio: imaginar um ambiente em que se sobrevivesse somente com produtos comprados através da Internet e em lojas portuguesas que oferecessem condições de segurança, privacidade e entrega rápida. Uma cadeira e um computador são o material suficiente para se poder dar início a viagem…

Primeiro objectivo da “missão de sobrevivência”: suprir as necessidades básicas. Ponto de partida: portal de pesquisa Google. Termos para procura: “Comércio electrónico alimentação higiene”. Pormenor: Páginas de Portugal. Enter. Resultado: Dezenas de páginas que se repetem, entre as quais encontramos, a custo, o site do Continente. E as expectativas não saem goradas já que, uma vez lá dentro, surge perante os nossos olhos uma montra imensa de produtos, a que se juntam dezenas de promoções especiais que, rapidamente, chamam a atenção.

E é desta forma que, em pouco tempo e com alguns clicks, o nosso “carrinho de compras virtual” começa a ganhar forma: pão, água, leite, cereais, alguns quilos de fruta e legumes, carne e peixe devem chegar, a que juntamos shampô e sabonete. Tudo isto sem as confusões com os “trocos”, habituais numa loja normal, e sem os problemas para a coluna que podem representar os vários sacos de compras com que se sai, normalmente, de um supermercado.

À medida que o tempo passa, torna-se assim mais fácil movimentar-se dentro do complexo mundo do comércio electrónico, até porque a maioria dos sites tem ligações a outras lojas, que por sua vez se ligam a outras, e assim sucessivamente. Agora, e uma vez supridas as necessidades básicas, é hora de pensar em como passar o tempo. Uma opção que pode assentar nos livros e revistas para todos os gostos que se encontram, facilmente, através de sites como os da Impresa ou da Bertrand. Para dar outro ambiente à sala, a música surge também como uma opção viável que podemos adquirir, por exemplo, através da Somlivre.

Contudo, nem tudo é fácil à medida que o tempo passa e permanecemos sozinhos em frente ao computador. Assim, se se quiser falar com alguém, ou usamos o email ou podemos recorrer aos telemóveis disponíveis nos sites das várias operadoras (Vodafone, TMN e Optimus), sendo até possível enviar cartas via internet (!), através dos CTT. E é desta forma que prosseguimos uma viagem por entre centenas de clicks, na qual nos cruzamos ainda com todo o material informático que se possa imaginar em lojas como a Worten ou a Vobis, para além dos inevitáveis portais de leilões (ex: miau.pt). Aqui apresentam-se os produtos mais variados, novos e usados, e onde, como nunca, parece fazer sentido comprar um Corta Relva Eléctrico de 1300W a 110 € ou uma Balança ‘Crystal’ Escala extra fina com divisões de 50gr, disponível a 147,50 €!

botao.jpgAo fim de uma viagem como esta, e já com o computador desligado, poder-se- ia afirmar que, hoje em dia, já se pode viver pela Net em Portugal. Possibilidade que ganha ainda mais força face à hipótese que alguns portais como o Sapo ou o Clix oferecem de criarmos a nossa própria loja electrónica. Resta, porém, saber se os portugueses (e os humanos em geral) já estão preparados para se converter na totalidade à simplicidade de um mundo que, se por um lado, oferece hoje grandes vantagens de comodidade e conforto, parece ir contra aquilo que de mais básico caracteriza a humanidade. Até porque um gesto ou um olhar são mais do que um breve clicar de um rato e porque um sorriso (ainda) é mais do que um símbolo negro resultante do um simples bater de três teclas de computador… 🙂

Tiago Reis