Metade da população portuguesa vê mal e “as necessidades não satisfeitas em cuidados oftalmológicos têm aumentado em Portugal”, segundo o Programa Nacional para a Saúde da Visão que está a ser distribuído pela Direcção Geral de Saúde (DGS). A escassez de meios e infra-estruturas, assim como o pouco desenvolvimento da investigação científica e escasso financiamento nesta área, são os problemas fundamentais apontados pela Associação de Retinopatia de Portugal (ARP).

“Os responsáveis já admitem teoricamente que é um problema de saúde pública, mas depois isto não se constata na prática”, afirma ao JPN a presidente da ARP, Maria Portugal. As doenças oftalmológicas são patologias genéticas sendo por isso fundamental fazer um levantamento das pessoas que têm a doença para se proceder à resolução do problema “através de aconselhamento genético”. Há pessoas que podem ter este problema e sem saber passá-lo aos seus filhos. “Todavia são-nos levantados inúmeros problemas, nomeadamente pelos órgãos competentes, que admitem o problema, mas depois não nos dão os meios logísticos necessários”, menciona a presidente da associação.

No futuro estima-se que cerca de 300 mil pessoas sofrerão de ambliopia e estrabismo. Os responsáveis pelo programa consideram que o país se encontra “perante um problema de saúde pública que urge combater e cuja magnitude requer medidas planeadas a nível nacional que atravessem todo o sistema prestador de cuidados de saúde”.

Medicina privada não se interessa

“Devia haver um acompanhamento correcto à ‘baixa visão’. Nós tentamos que as pessoas usem com eficácia o grau de visão que ainda têm. Isso é uma coisa que está pouco desenvolvida em Portugal, porque não dá dinheiro e por isso nenhum oftalmologista se interessa. É um trabalho muito demorado. No fundo é um programa de reabilitação. A medicina privada não se interessa porque isto não dá lucro”, menciona Maria Portugal.

Há uma ignorância factual deste ramo da oftalmologia devido à falta de investigação, defende a associação. Os financiamentos fornecidos pelo Estado a esta área são muito baixos. “Há falta de investigação, interesse científico e apoio financeiro”, refere a presidente da ARP.

Falta de vontade política e de sensibilidade da comunidade médica

Os constrangimentos que impedem a solução deste grave problema não são apenas de natureza estrutural ou financeira: alguns doentes apontam outro tipo de factores que colocam em causa a comunidade médico-cientifica e mesmo o próprio Governo. “A comunidade médica não tem em alguns casos a sensibilidade e os políticos não têm de todo a atenção necessária a este problema. Considero que não há vontade política para tentar resolver o problema”, acusa Maria Portugal.

Um terço dos diabéticos nunca foram examinados ou não é examinado regularmente por um oftalmologista. “Os diabéticos são muitos e o sistema de saúde não está a comportar”, refere a responsável da ARP. 15 mil diabéticos estão em risco de cegar por retinopatia e maculopatia diabéticas. Segundo o programa distribuído pela DGS, a maioria destes casos poderia ser prevenida ou tratada através de tratamentos específicos.

Os estudos consultados no âmbito da elaboração do Programa Nacional para a Saúde da Visão indicam que as doenças da córnea são responsáveis por quase 210 mil casos de diminuição da visão e por perto de 1.300 casos de cegueira em Portugal. A hipertensão ocular afecta 200 mil pessoas. Destas, 67 mil sofre de glaucoma e seis mil pessoas de cegueira irreversível.

Pedro Sales Dias