O principal adversário da União Nacional Africana do Zimbabwe – Frente Patriótica (ZANU-FP) é o Movimento para a Mudança Democrática (MDC) liderado por Morgan Tsvangirai, que acusou Mugabe de ter destruído um país que já foi próspero, bem como as suas relações internacionais. Afirmou que esta campanha pretende apenas desviar as atenções de problemas graves como a falta de emprego e a fome.

Recorde-se que nos últimos cinco anos os actos de intimidação e as detenções arbitrárias de opositores intensificaram-se. Leis aplicadas em 2002 restringiram a liberdade de imprensa e de associação, limitando a actividade da oposição e criando dificuldades a movimentos da sociedade civil, referem organizações de direitos humanos, como a Amnistia Internacional.

Apesar do clima de intimidação, as vozes contra o regime sobem de tom: o arcebispo de Bulawaio apelou à “insurreição pacífica” contra Mugabe e 350 organizações da sociedade civil juntaram-se ontem para criticar as eleições que, dizem, não serão “livres nem justas”.

No Zimbabwe, meio milhão de habitantes sofre de subnutrição. O défice orçamental e a inflação ultrapassam os 300%. Os últimos dados da UNICEF mostram que a taxa de mortalidade infantil subiu para 50% desde 1990. Uma em cada cinco crianças é órfã e em cada 15 minutos morre uma criança vítima de doenças relacionadas com Sida.

Mugabe desvaloriza as acusações classificando-as de “mentiras” e acusando os seus opositores de traição. No seu último comício, o líder zimbabwenês reafirmou a sua confiança na vitória da ZANU-FP e assegurou que o povo “votará livremente”, enquanto prometia o aumento do salário mínimo para os trabalhadores domésticos.

Eleições anti-Blair

A presença de observadores internacionais nestas eleições cinge-se a países e instituições consideradas “amigas” do Governo de Mugabe, como a Frelimo de Moçambique e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), ficando de fora todas aquelas que não reconhecem a legitimidade das eleições anteriores, entre os quais se encontram os Estados Unidos e a União Europeia, que Mugabe acusa de fazerem parte de uma campanha ocidental hostil liderada pela Grã Bretanha (antigo colonizador) contra o país que lidera.

O partido de Mugabe escolheu mesmo, como lema de campanha “Eleições 2005, eleições anti-Blair” e afirma que votar na ZANU-FP significa “ter de volta a terra, acabar com o fecho racista de fábricas, pôr termo às sanções [dos EUA e da UE] e acabar com o MDC”, movimento que Mugabe acusa de estar ao serviço do governo britânico e de o querer tirar do poder para o devolver aos brancos.

Daniel Brandão