Existe uma boa dinâmica entre a cidade e a universidade? O Porto está a aproveitar todo o potencial que a universidade tem, por exemplo, no desenvolvimento de políticas de cultura ou de urbanismo? Porque é que não se aproveitam as zonas desertificadas do centro do Porto para residências universitárias?

Não se está a proveitar muito esse potencial. Há alguma esperança na Sociedade de Renovação Urbana [“Porto Vivo”], que começou a funcionar há pouco tempo, e que nós esperamos que possa cumprir, em relação à UP, dois objectivos: o alojamento para estudantes, embora esse seja difícil de concretizar, porque a procura de residências está a diminuir e porque (e felizmente que é assim) as exigências são agora maiores e as pessoas procuram cada vez mais outro tipo de alojamento; o segundo aspecto, e que me parece mais importante, é possibilitar, em algumas zonas da cidade antiga, a criação de espaços onde se possam desenvolver empresas. Se realmente houver essa ligação à cidade, se tivermos os estudantes preparados para criar empresas, e se a cidade oferecer esses espaços, creio que seria muito importante para a relação cidade/universidade.

Há ainda muito por fazer para melhorar a interdependência entre a cidade e a universidade?

Nós gostaríamos de ter um pouco mais de carinho, em particular da Câmara Municipal. Seria bom que os espaços próximos das faculdades fossem melhor tratados. Por exemplo no pólo da Asprela, o grande esforço que foi feito, em termos de projectos, até agora foi todo da universidade. A zona central do pólo vai ter duas novas alamedas que vão ser construídas graças a um acordo entre a universidade e a Metro do Porto. A Câmara, ao longo dos últimos anos – e não estou só a falar de quem está à frente da autarquia agora-, não teve realmente nenhum papel relevante no crescimento da Universidade.


E a universidade está a trazer as mais-valias para a cidade e para a região que realmente tem potencial para trazer?

Está. O problema é que elas não são aproveitadas. Há um certo desfasamento, não vale a pena negá-lo, entre o que a universidade ensina e o que as empresas querem. É preciso ter uma dinâmica que parta do interior da universidade, que crie áreas novas de intervenção, que pensem no futuro. Nas áreas mais tradicionais, as empresas não precisam realmente da universidade e aí a mais-valia não se manifesta.

Anabela Couto
Miguel Conde Coutinho